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sábado, 26 de novembro de 2011

Stefan Zweig e o Brasil do futuro: um novo olhar para o autor e a terra que ele elogiou


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Stefan Zweig e o Brasil do futuro: um novo olhar para o autor e a terra que ele elogiouAutor da célebre máxima "Brasil, país do futuro", Zweig volta a ter sua obra estudada no país e ganhará filmes, exposições e até um museu em Petrópolis (RJ) 70 anos após sua morte

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Stefan Zweig e o Brasil do futuro: um novo olhar para o autor e a terra que ele elogiouAutor da célebre máxima "Brasil, país do futuro", Zweig volta a ter sua obra estudada no país e ganhará filmes, exposições e até um museu em Petrópolis (RJ) 70 anos após sua morte

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Foto: Getty Images,


Quando o escritor vienense Stefan Zweig se mudou em 1941 para Petrópolis, a cidade de palácios imperiais aninhada nas montanhas do Rio de Janeiro, ele era um dos autores mais traduzidos do mundo, famoso por seus romances que exploram obsessão, paixão e desespero.
Mas depois que Zweig, desanimado com os avanços dos nazistas, tirou a própria vida alguns meses mais tarde, aos 60 anos de idade, em um pacto suicida com sua jovem esposa Lotte, ele se tornou conhecido em seu país adotivo pela criação de uma das frases mais associadas com o Brasil: "País do Futuro".
Derivado do título de seu livro de 1941 que elogia o maior país da América Latina, a frase foi expandida e reciclada ad nauseam como um refrão: "O Brasil é o país do futuro – e sempre será", usado para casualmente descartar uma nação duramente castigada pela alta inflação e corrupção enraizada.
Com as perspectivas do Brasil agora notavelmente melhores, os brasileiros estão reavaliando Zweig e seu legado, à medida que o título de seu livro retoma folego com todos, desde publicitários até diplomatas europeus e o presidente Barack Obama, que visitou o Brasil em março, usando-o em discurso para sugerir que, talvez, o "futuro" do Brasil tenha finalmente chegado.
"O Brasil já não é o país do futuro", disse Romero Rodrigues, um empresário da internet brasileira, em um novo típico recondicionamento do prazo. "É o país do presente".
A casa onde Zweig tirou a própria vida aqui ao engolir veneno deve reabrir em breve como um museu. Enquanto isso, escritores brasileiros e historiadores têm voltado a refletir sobre o significado de "Brasil, País do Futuro" e algumas das intrigas políticas em torno da sua publicação há 70 anos.
Em um recente debate televisivo sobre Zweig, Alcino Leite Neto, editor da Publifolha, comparou sua importância no Brasil a de Alexis de Tocqueville, o pensador político francês que escreveu sobre os conceitos americanos de liberdade e igualdade em "Democracia na América", nos Estados Unidos.
"Tivemos Stefan Zweig", disse Leite Neto, "que nos deixou este livro defendendo a tolerância, a compreensão entre as pessoas, uma aposta em favor da paz, escrita durante a Segunda Guerra Mundial."

   
Foto: Getty Images

Uma maior valorização do seu trabalho também está em curso, com dois longas-metragens brasileiros em produção adaptados de sua escrita, um sobre "A Coleção Invisível", que fala da experiência da Alemanha com a inflação, e outro sobre "Leporella", uma empregada que se apaixona por seu empregador.
Mas é o próprio "Brasil, País do Futuro" (publicado aqui desde 1940 em várias edições) e as andanças de Zweig pelo Brasil antes de sua morte, que recentemente têm atraído maior interesse.
Autoridades culturais em Petrópolis organizaram uma exposição multimídia este ano chamada "Vidas de Stefan Zweig!", e alguns brasileiros começaram a trazer europeus e americanos que ocasionalmente aparecem na cidade para ver a sua casa na Rua Gonçalves Dias, ou até mesmo o cemitério onde ele e Lotte estão enterrados lado a lado.
"É um pouco estranho levar alguém para os lugares de tal tragédia, mas estamos felizes em receber todo o tipo de visitante", disse Walter Raposo, 80, um motorista de charrete em Petrópolis, que tem levado vários aficionados de Zweig a esses locais.
Alberto Dines, um apresentador de televisão e eminência entre os jornalistas do Brasil que conheceu Zweig quando criança quando o escritor visitou sua escola no Rio de Janeiro, tem sido uma força motriz por trás da renovada atenção ao escritor em Petrópolis e além.
Sua pesquisa e seu próprio livro sobre Zweig, "Morte no Paraíso", exploram em detalhes as origens complicadas do título do livro, que Dines explica não ter sido criação de Zweig, mas uma sugestão de Stern, que traduziu seu livro do alemão para o inglês.
Em um toque de ironia, Zweig, nascido na era de ouro de Viena de pais judeus ricos, aludido na epígrafe do livro a uma frase em francês, "une terre d’avenir", de correspondência recebida de Arthur de Gobineau, um aristocrata, diplomata e teórico francês do século 19 que promulgava a superioridade racial e detestava o Brasil.
"É uma coisa curiosa, porque Gobineau foi o pai do racismo moderno", disse Dines, que aos 79 anos está supervisionando a conclusão da Casa Stefan Zweig, o museu criado na casa onde Zweig viveu. "Vindo da Europa racista, Zweig ficou impressionado de ver as diferentes raças se misturando tão livremente no Brasil."
Claro, alguns afirmam que as observações em grande parte otimistas de Zweig sobre as relações raciais no momento desmentiam circunstâncias que eram consideravelmente mais complexas – e continuam a ser conforme programas de ação afirmativa se espalham por todo o Brasil buscando reverter séculos de exclusão.
Ainda assim, o otimismo de Zweig não foi esmaecido pelos desafios óbvios no Brasil do início dos anos 1940, como uma expectativa média de vida de 43 anos e uma população composta em 56% por analfabetos. Algumas de suas avaliações otimistas continuam a impressionar hoje.
Ele afirmou, por exemplo, que Portugal teve uma visão limitada ao colonizar o Brasil, em parte, esvaziando as prisões portuguesas de elementos indesejáveis e os enviando ao outro lado do Atlântico. "Como de costume, não é estrume limpo que compõe a melhor preparação da terra para colheitas futuras", escreveu Zweig.
A reavaliação de Zweig aqui coincide com uma nova crise na Europa – e com uma nova onda de imigração portuguesa para o Brasil, mas desta vez de profissionais desempregados e não condenados. Alguns dos que procuram oportunidade no Brasil podem até saber que Zweig continua altamente estimado em partes da Europa, especialmente na França, onde seus livros ainda estão amplamente disponíveis.
Estranhamente, o livro de Zweig sobre o Brasil foi duramente criticado no Brasil logo após a sua publicação. Críticos assolaram o escritor austríaco, com veemência, insinuando que ele foi pago pelo regime autoritário de Getúlio Vargas para escrever o livro.
Dines disse que as críticas severas foram uma forma encontrada pelos revisores de indiretamente agir contra a censura de Vargas, já que os críticos equipararam elogiar o Brasil a elogiar sua ditadura. De qualquer maneira, o autor de vários best-sellers tinha pouca necessidade de apoio financeiro do Brasil.
Mas Zweig precisava de algo mais no momento: um refúgio dos nazistas. Dines, baseado em sua pesquisa sobre o caminho de Zweig até o Brasil, argumenta que o escritor tinha um acordo implícito com as autoridades brasileiras para produzir seu livro em troca de autorizações de residência emitidas às pressas em Buenos Aires, Argentina, para ele e sua esposa.
Depois de tudo isso, algum mistério persiste a respeito de porque ele se mataria logo depois de chegar no Brasil. Ele reconheceu que uma vida pode ser insuficiente para compreender corretamente o Brasil. Mas na nota de suicídio que deixou se descrevendo como "um sem país", ele só ainda tinha apenas elogios para o "maravilhoso" Brasil que o recebeu.
"Depois que eu vi o país de minha própria língua cair e minha terra espiritual – a Europa – destruir a si mesma", concluiu ele, "seria necessário uma enorme força para reconstruir minha vida."

IG

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