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sábado, 17 de dezembro de 2011

Polícia investiga médico boliviano acusado de arrancar cabeça de bebê durante parto na Bahia

Aliny Gama , Do UOL Notícias, em Maceió

A Polícia Civil da Bahia está investigando os procedimentos utilizados por um médico boliviano durante um parto prematuro, realizado no hospital municipal de Iramaia (415 km de Salvador). Segundo a polícia, Humberto Sivila Becerra, 32, é acusado pela família da mãe de decepar a cabeça do bebê, que estava com 23 semanas de gestação, com uma tesoura. O médico, que não tem formação reconhecida em obstetrícia, nega as acusações.
O médico trabalha no Programa de Saúde da Família de Iramaia, mas estava de plantão no hospital municipal no dia 19 de novembro. A mãe, uma adolescente de 17 anos, afirma também que houve negligência e demora no atendimento. Ela reside a 35 km do centro da cidade, na zona rural do município, no assentamento Boa Sorte, do MST (Movimento Rural dos Trabalhadores Sem Terra).
O inquérito deve ser concluído até o próximo dia 20, quando completam 30 dias do caso. A polícia aguarda o resultado da necropsia do feto, feita no IML de Jequié, para concluir a investigação.
O delegado André de Oliveira Alves afirmou ao UOL Notícias que o resultado da necropsia é considerado peça-chave para decidir sobre o indiciamento ou não de Becerra por erro médico. O caso também está sendo acompanhado pelo Conselho Tutelar do município.
“Os depoimentos da jovem e da mãe são contundentes e não é comum ocorrer um parto quando o bebê vem sem a cabeça. Se ele estava com o cordão umbilical envolvido no pescoço, não poderia ter sido feito parto normal já que os riscos de morte eram grandes. Estamos colhendo depoimento de funcionários do hospital, além de pacientes e acompanhantes que estavam naquela noite, para sabermos se houve imperícia médica”, disse.
Segundo a polícia, também há suspeita de demora no atendimento, uma vez que a jovem relatou que chegou no início da noite ao hospital, mas só foi atendida na madrugada do dia seguinte –o que pode ter contribuído para o parto prematuro. O médico teria aplicado ocitocina (hormônio usado para promover contrações uterinas durante o parto) que, segundo a jovem, “só fizeram aumentar as contrações e o sangramento”. A expulsão de parte do feto teria ocorrido somente no início da manhã e, devido às complicações, a mãe foi transferida para a maternidade da cidade vizinha Jequié para realização de curetagem.
Ainda segundo o delegado, a mãe da adolescente acompanhou o procedimento e relatou que, quando o feto começou a ser expelido, o médico “pediu um bisturi auxiliar de enfermagem, que informou não existir no local. Ele pediu então que trouxesse uma tesoura, quando puxou o bebê pelas pernas e foi cortar o cordão que estava envolvido no pescoço do bebê, o feto estava sem cabeça”, disse.

Médico nega

O advogado do médico, Artur Costa Pinto Neto, explicou que o feto foi expelido sem cabeça "porque estava com o cordão umbilical envolvido no pescoço." "Ele usou a tesoura apenas para cortar o cordão umbilical do feto”, afirmou. Ainda segundo o advogado, o médico alegou que o feto já estava em estado de decomposição dentro da barriga da mãe “pois a mãe estava com aborto retido há mais de três dias.”
O advogado questionou o tempo de gravidez da jovem dizendo que "ela estava com quatro meses de gestação e que, se o feto tivesse nascido vivo, viveria apenas alguns minutos".
A tese é contestada pelo delegado, que analisou os exames de pré-natal da adolescente. Segundo ele, um exame de ultrassonografia realizado um mês antes do ocorrido apontam ao contrário. "A ultrassonografia diz que o feto estava com 19 semanas. Então, um mês depois, completou-se 23 semanas, ou seja seis meses de gestação. Nesse período já é considerado um parto prematuro", disse o delegado.
Questionado sobre os exames que comprovariam a afirmação do médico, de que o bebê já estava morto, o advogado não soube detalhar, informando que “ele fez o exame de toque e viu que o feto não tinha mais batimentos cardíacos.”
“Pela coloração da pele do feto dá para observar que ele já estava morto há alguns dias na barriga da mãe e, por conta do estado de decomposição, ocorreu o rompimento do pescoço no momento em que foi expelido”, disse, afirmando que Becerra realizou todos os procedimentos médicos corretos para salvar a vida da mãe, uma vez que o bebê já estaria morto.
O advogado alegou ainda que o médico sofreu ameaças de morte no dia seguinte ao episódio. “Temos fotos da pintura do carro do médico riscada com frases de ameaçadoras.” Segundo ele, o médico continua trabalhando no Programa de Saúde da Família, mas pediu para ser transferido de área, temendo represálias. “Ele está sob proteção de um guarda municipal, que fica na porta do posto quando Becerra está trabalhando”, afirmou.
Segundo consulta feita pelo UOL Notícias, o médico se formou na Universidade Católica Boliviana e conseguiu a revalidação no Brasil na Universidade Federal de Santa Catarina, mas o resultado apontou que ele estava "apto para complementação de estudos". O site do CFM (Conselho Federal de Medicina) informa que Humberto não tem a especialidade de ginecologia e obstetrícia.

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