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domingo, 15 de janeiro de 2012

Oferta de médicos do SUS é quatro vezes menor que na rede privada

O Médico Messias Alves atua em quatro postos e atende cerca de 70 pacientes

Dos 484 profissionais convocados para o PSF em Fortaleza, 100 não apareceram e 150 desistiram do cargoSão 36 anos acordando de madrugada, enfrentando filas enormes de pacientes na porta do consultório, tendo que lidar com a falta de estrutura, falta de equipamentos, e, muitas vezes, até a falta de apoio de um outro profissional, já que, frequentemente, se percebe sozinho em um posto de saúde para atender toda a demanda. O ginecologista Messias Alves se divide entre quatro empregos sendo duas unidades públicas e duas privadas e conta que, em dias de plantão, chega a atender 70 pacientes por dia.

"É cansativo demais. Se eu pudesse escolher, trabalharia somente em um hospital ou em um posto de saúde, mas tenho que manter o padrão de vida. Diante disso, tenho que encarar a falta de condições estruturais, baixo salário e uma grande demanda. Acredito que, devido à essa situação, muitos médicos desistem de atender no sistema público e recorrem ao particular".

Segundo a Pesquisa Demográfica Médica no Brasil 2011, realizada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), no Ceará para cada mil usuários de planos de saúde, existem 5,22 postos de trabalho ocupados por médicos, enquanto que, no SUS, a taxa cai para 1,36 postos preenchidos para cada mil pessoas que utilizam o sistema público.

O que significa que a oferta de médicos cadastrados no SUS é quatro vezes menor que na rede privada no Estado. A situação reflete diretamente no aumento significativo da demanda de pacientes e na carga de trabalho dos profissionais do SUS.

A pesquisa também classifica o Ceará como o sexto Estado com a menor oferta de médicos pela rede pública a cada mil habitantes, empatado com Acre e Rondônia. Porém, os dados vão de encontro com o estudo Presença do Estado no Brasil: federação, suas unidades e municipalidades, divulgado semana passada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que aponta o Ceará como quarto Estado com menor número desses profissionais, ofertando 2,2 médicos por mil habitantes.

Contudo, a pesquisa do Conselho Federal de Medicina (CFM) utiliza como base a população usuária do SUS em relação à população geral do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 2010 reduzida da população de usuária de planos de saúde. Enquanto o Ipea tem como referência a população estimada pelo IBGE em 2009.

"Os dois estudos têm credibilidade, porém é mais fácil o CFM saber quantos médicos existem e onde eles estão que qualquer outro órgão", ressalta o presidente do Conselho Regional de Medicina do Ceará (CRM-CE), Ivan Moura Fé.

Descaso
Esse cenário da ausência de médicos no SUS não se reflete apenas na rotina e na saúde dos médicos, mas também na vida dos usuários. A dona de casa Maria Moura, 34 anos, mora no bairro Jangurussu e frequenta o Centro de Saúde Evandro Ayres, uma das unidades onde o ginecologista Messias Alves trabalha.

Ela conta que é necessário acordar às 5h da manhã para tentar ser atendida na unidade. "A situação é tão grave que estou há quatro meses esperando uma consulta com um ortopedista, mas ainda há cinco mil pessoas na minha frente na fila", diz.

A coordenadora do Centro de Saúde Evandro Ayres, Iclejane Rabelo, ressalta que a unidade atende cerca de 40 mil pessoas por mês, provenientes de sete comunidades do bairro Jangurussu, mas confessa que a falta de médicos é um grande problema. "Deveríamos ter a oferta de sete médicos do Programa Saúde da Família (PSF), mas só temos dois. Quando um fica doente ou vai fazer visitas domiciliares fica só um à disposição da população", conta.

Segundo a coordenadora da atenção básica da Secretaria Municipal de Saude (SMS), Lídia Dias Costa, entre os anos de 2006 e 2010, a Prefeitura convocou 484 médicos aprovados em concurso para o Programa Saúde da Família.

Contudo, aproximadamente, 100 destes médicos não se apresentaram para contratação e cerca de 150 destes convocados acabaram desistindo da função, seja por opção de exercerem outras especialidades ou por incompatibilidade com o serviço público.

Lídia Dias Costa explica que, ainda este ano, haverá uma seleção pública de médicos para ocuparem os cargos vagos e as substituições temporárias de profissionais afastados por conta de licença médica, férias ou outros afastamentos. Ainda em 2012, a Prefeitura de Fortaleza inicia a reforma de 56 Centros de Saúde da Família.

Faltam médicos no Interior do CE
Os salários são bons, há vagas, mas faltam médicos no Interior do Ceará. O problema se repete em todas as especialidades. Para o presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará (Simec), José Maria Pontes, o problema não é só financeiro, já que não há estrutura para o profissional trabalhar, Plano de Cargos Carreira e Salários, contratos estáveis ou carteira de trabalho assinada.

Conforme José Maria Pontes, em alguns municípios do Interior do Estado os salários variam entre R$ 8 a R$ 13 mil, porém não há condições de trabalho. "Quem estuda em faculdade privada e pagou milhões para se formar não vai se submeter a trabalhar em uma cidade onde o posto de saúde não oferece o mínimo de segurança", diz.

Carência
Como exemplo, temos a bela Jericoacoara que é um paraíso para muitos, mas não para os médicos. Não adiantaram os atrativos naturais e financeiros oferecidos pela Prefeitura. O salário de R$ 8 mil e a condição de morar numa praia paradisíaca não tem atraído estes profissionais. No mês passado, o Diário do Nordeste mostrou que um morador da região passou mal quando estava praticando kite surf, teve uma parada cardíaca e morreu na beira da praia sem atendimento.

Mas, segundo informações da Prefeitura do município, a situação tende a melhorar, pois além dos nove médicos que atendem no Programa de Saúde da Família (PSF), atualmente, mais sete médicos devem ser contratados ainda no início do ano.

DesafiosDe acordo com o titular da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), Arruda Bastos, a carência de médicos no sistema público não é uma realidade local, e sim um problema mundial.

Contudo, conforme o secretário, essa situação acontece também no serviço privado. "Não é fácil captar médicos para trabalhar nos dois serviços. Essa carência não é só no sistema público de saúde", diz.

Arruda Bastos explica que a falta de médicos no Interior do Estado já foi maior, apesar de não suprir ainda a demanda. Ele ressalta que o governo do Estado está viabilizando estrutura para atrair os especialistas.

O titular da Secretaria da Saúde do Estado destaca ainda que com a construção de dois hospitais regionais, um no município de Juazeiro do Norte, no Cariri, e outro em Sobral, na região Norte do Ceará, serão disponibilizados, respectivamente, 210 e 320 médicos para atender a população das áreas em questão.

Além disso, estão sendo construídas 150 unidades básicas de saúde e, até a próxima semana, aproximadamente, 159 veículos serão entregues pelo governo para facilitar o deslocamento.

Confira ainda vídeo com o médico Rommel Araújo



KARLA CAMILAREPÓRTER


















































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