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terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Em festa do futebol, a noite é de Shakira

Na porta da Kongresshaus, em Zurique (Suíça), um tapete vermelho é estendido aos convidados que estão prestes a chegar. Cercados por uma grade, alguns fãs se acotovelam para conseguir autógrafos e fotos dos jogadores e celebridades que passam por ali, como Lionel Messi, Wayne Rooney, Xavi, Pelé e Ronaldo. Uma mulher de vestido vermelho e cabelos loiros, que à distância faria lembrar Marylin Monroe, provoca um verdadeiro frisson. É Shakira, autora do hit Waka Waka, música da Copa de 2010 e atual namorada do zagueiro do Barcelona, Gerard Piqué – um dos presentes à festa.

Alguns dos fãs que conseguiram um autógrafo da cantora colombiana também levarão para casa a assinatura do entusiasmado senhor de baixa estatura que a acompanhava – e que se oferecia para dar autógrafos de forma frenética. Muitos deles talvez nem saibam que se trata de Joseph Blatter, presidente da Fifa, que só abriu mão da companhia de Shakira em raros momentos. A cerimônia da Bola de Ouro é a grande noite da Fifa, e Blatter parecia empenhado na missão de fazer com que tudo parecesse perfeito.

Não é por acaso. Depois de um 2011 conturbado, em que a entidade foi alvo de inúmeras denúncias e foi duramente criticada pela escolha de Rússia e Qatar como sedes das Copas do Mundo de 2018 e 2022, respectivamente, Blatter conseguiu chegar à sua grande festa anual sem maiores arranhões. Meia hora antes do início da transmissão ao vivo da festa, Blatter subiu ao palco para dizer que 2011 foi um ano de problemas para o “capitão do barco”, mas também de esperança de “finalmente trazer o barco para águas claras e limpas”.
Franck Fife/AFP
Durante uma hora e meia de cerimônia, Blatter transitou entre francês, inglês e italiano, tentando mostrar que estava relaxado. O esforço de limpar a imagem da entidade (e a própria) também se manifestou na homenagem ao jogador Simone Farina, que atua pelo Gubbio, da segunda divisão italiana. Farina denunciou neste ano uma oferta de suborno, e por isso recebeu uma flâmula e o título de embaixador da Fifa. Quando subiu ao palco, Shakira também deu o seu testemunho sobre os projetos sociais da Fifa.

A Bola de Ouro é uma cerimônia para deixar feliz a “família do futebol”, para utilizar um termo que Blatter usa à exaustão. A ausência de Cristiano Ronaldo e José Mourinho – indicados à Bola de Ouro e ao prêmio de melhor treinador de 2011, respectivamente – foi uma saia-justa, mas de certa forma ajudou a reduzir o número de perdedores na noite. Alex Ferguson perdeu para Guardiola o título de melhor treinador, mas foi condecorado por Blatter com o “Prêmio Presidencial”. Neymar não foi eleito para a seleção de 2011, mas venceu o prêmio de gol mais belo do ano. Wayne Rooney, derrotado pelo brasileiro, foi eleito um dos 11 melhores.

Pouca gente voltou para casa com as mãos abanando – Marta foi uma delas. Depois de cinco anos consecutivos de hegemonia, a brasileira deixou o prêmio com o sorriso amarelo de quem mais uma vez tem de explicar por que o futebol feminino não consegue engrenar no Brasil, e desta vez, sem o troféu nas mãos. A vitória da japonesa Homare Sawa (vestida com um típico quimono) e do técnico Norio Sasaki deu uma cor inédita à festa, que teve enorme presença de jornalistas do país.

O Brasil, por sua vez, teve participação apagada. Além de Marta, fomos representados pelo eterno carisma de Pelé – que abraça qualquer jogador com o entusiasmo de um conhecido de longa data – e pelos quilos a mais de Ronaldo – dos quais parte da platéia parecia não saber, a julgar pela espontânea reação quando o ex-jogador entrou no palco. Sem ter um jogador indicado à Bola de Ouro desde 2007, com Kaká, o Brasil teve de se contentar com o prêmio de gol mais bonito do ano vencido por Neymar. Tímido diante dos microfones, o garoto esboçou um agradecimento a Deus e desejou uma boa festa a todos. Sequer se arriscou a conversar com Rooney, Vidic e Iniesta, que se sentaram a seu lado.

Por mais que o maior prêmio da noite tenha sido vencido por um argentino, é inegável que a Espanha é na verdade a grande vencedora. Além da Bola de Ouro e do melhor técnico, nove dos 11 melhores jogadores de 2011 atuam no país – ou melhor, por Barcelona ou Real Madrid. A ausência dos indicados do time merengue também ajudou a deixar a festa livre da marra de Cristiano Ronaldo ou José Mourinho. Com Messi e Guardiola no palco, sobram agradecimentos a companheiros de equipe, de clube e até aos adversários. Tudo muito harmônico e diplomático - do jeito que Blatter e a família do futebol gostam.

fonte: Veja

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