Em 2012, azul-e-branca de Nilópolis se inspira no passado para recuperar identidade perdida nos últimos carnavais. Alegoria de 1989 será reeditada
Rafael Lemos
Para a azul-e-branca, pouco importa se é ouro ou lata, o que interessa é reluzir e esbanjar muito luxo pela Marquês de Sapucaí. E será justamente essa a linha da abertura do desfile da Beija-Flor, cujo enredo é São Luís - O poema encantado do Maranhão. Estarão representados os franceses, que fundaram capital maranhense em 1612; os holandeses, que invadiram a cidade; e os portugueses, que enfim a colonizaram.
“O carnaval é fantasia. Vamos mostrar a cidade de São Luís do jeito que os invasores e colonizadores imaginavam. Ou seja, com muitas riquezas e ouro”, explica o carnavalesco Fran Sérgio, integrante da comissão de carnaval. "Teremos uma Beija-Flor rica e pomposa", avisa.
Beija-Flor: setor de escravos
O desfile ainda reserva espaço para a religiosidade, as festas folclóricas, danças típicas e lendas. As artes ocuparão lugar de destaque, num setor dedicado à poesia, literatura e música. Vários artistas que nasceram em São Luís já confirmaram presença no desfile: Alcione, Ferreira Gullar, Josué Montello, Rita Ribeiro e Zeca Baleiro.
No entanto, o grande homenageado será mesmo o carnavalesco Joãosinho Trinta. Até sua morte, em dezembro, estava decidido que o carnavalesco desfilaria sentado em um trono. Agora, o assento virá vazio, numa reverência a João. Em seu lugar, estarão apenas o cetro, a coroa e a roupa que ele usaria no dia do desfile.
Luxo - Foi pelas mãos de Joãosinho Trinta que o luxo chegou à Beija-Flor, na década de 1970. Com enredos alusivos à realeza, o carnavalesco sagrou-se o único campeão cinco vezes consecutivas do carnaval carioca e transformou para sempre os desfiles das escolas de samba. Os dois primeiros títulos foram ainda no Salgueiro: O rei de França na ilha da assombração, em 1974, e O segredo das minas do rei Salomão, em 1975. Na Beija-Flor, vieram os outros três campeonatos: Sonhar com rei dá leão, em 1976; Vovó e o rei da Saturnália na corte egipciana, em 1977; e A criação do mundo na tradição nagô, em 1978.
Em 2005, 'Cristo torturado' causou nova polêmica com a Igreja Católica
Esse ano, a alegoria estará de volta numa homenagem a Joãosinho, que faleceu no último mês de dezembro. Dessa vez, no entanto, a escola promete rasgar o plástico que esconde o Cristo, realizando assim o desejo do carnavalesco. “Vamos realizar algumas coisas que queríamos ter feito naquele ano e não pudemos. Mas é surpresa”, desconversa Laíla.
Joãosinho saiu da Beija-Flor, mas deixou as polêmicas gravadas no DNA da escola. Em 2005, a Igreja Católica voltou a protestar quando a agremiação quis encenar um açoitamento de Cristo em pleno Sambódromo. O enredo falava sobre as missões jesuítas no Rio Grande do Sul. No fim das contas, a Beija-Flor desfilou com um Cristo ensanguentado, sendo consolado por Maria Madalena, mas sem ser açoitado. Também dividiu com terços, santos e outras imagens católicas, como uma imagem de São Miguel, o enredo que contou o choque entre a Igreja e índios durante as missões de "civilização".
Os monstros estão de volta à Beija-Flor
A partir daí, a Beija-Flor ficou conhecida por levar todo tipo de monstros para a Avenida. Também passou a ser comum ver em seus desfiles as cores preta e roxa, consideradas sombrias e pouco carnavalescas. Coincidência ou não, com a saída de Cid Carvalho, os monstros perderam espaço na escola de Nilópolis.
Agora, as criaturas estão de volta, num setor praticamente inteiro só para elas. A brecha para ressuscitar os monstros é a parte do desfile que falará sobre as lendas de São Luís, com a carruagem de Ana Jansen, a serpente de São Luís e o fantasma Manguda.
fonte: Veja
Nenhum comentário:
Postar um comentário