Fonte: O POVO Online/OPOVO/Fortaleza(bosk)
O acesso à garagem do condomínio é restrito aos veículos dos moradores ou qualquer um consegue entrar? Nós fizemos o teste! Nas seis tentativas, todos os portões se abriram
Equipe do O POVO não encontrou a mínima dificuldade para entrar em diversos condomínios residenciais da Capital Era manhã de uma quinta-feira ensolarada. Um carro popular se posiciona em frente ao condomínio e o porteiro libera a passagem. Não precisa nem buzinar, basta esperar alguns segundos para ter acesso. O veículo poderia seguir adiante, mas o motorista decide dar a ré e estacionar do lado de fora. O porteiro acompanha tudo e, para sua surpresa, não se trata de um condômino. É a equipe de reportagem do O POVO fazendo um teste e constatando como é fácil ter acesso aos prédios da Capital. Afinal, poderia ser qualquer um no volante, bem intencionado ou não.
Durante um dia, eu e a fotógrafa Iana Soares percorremos em um Fiat Uno, modelo antigo, os bairros de Fátima, Benfica, Aldeota, Joaquim Távora, Meireles e Jacarecanga. O objetivo era avaliar o grau de dificuldade no acesso às garagens dos condomínios residenciais, de diferentes classes sociais. Em todas as seis tentativas, os portões se abriram. A fragilidade no controle veicular dos prédios foi visível e as justificativas dos porteiros foram bem variadas.
No Benfica, o condomínio escolhido possui duas entradas para veículos, em ruas diferentes. Bastou encostar o carro na frente de um dos portões para ele se abrir. Segundo o próprio porteiro, o prédio é comumente usado por estranhos que querem cortar caminho e fugir do congestionamento. “Acaba sendo difícil reconhecer todos os veículos do prédio. Tem gente que está sempre trocando de carro e não avisa. A gente quer manter a ordem, mas é difícil”, reconhece. O ideal seria que cada prédio tivesse uma lista com o número da placa, modelo e cor dos carros dos condôminos. “Não sei se tem essa lista. Vai só na experiência mesmo”, completa.
No bairro de Fátima, a placa indicando o acesso exclusivo de veículos do condomínio é ignorada há anos. Mesmo assim, segundo o porteiro, nunca foi registrado assalto. O carro da reportagem estava se aproximando quando o portão começou a abrir. “Já virou mania deixar qualquer carro entrar. Quando a gente barra, sempre leva reclamação dos próprios moradores. O condomínio tem muito espaço para estacionar e acaba sempre entrando um ou outro”, comenta o porteiro.
Mais adiante, no Joaquim Távora, dois leves toques na buzina fizeram o porteiro atender ao sinal. “Pensei que fosse uma moradora. Ela se parece com você e saiu de manhã cedo”, tenta justificar o engano. Na Aldeota, foi o acúmulo de tarefas que deixou o porteiro mais relaxado com a entrada de veículos. “Eu sou sempre tão atencioso... Não acredito que não passei nesse teste. É porque estava de cabeça baixa varrendo a calçada”, diz envergonhado.
Prédio de luxo
No Meireles, o luxuoso prédio de vidros espelhados e muro alto também revela sua deficiência. Na dúvida se o carro parado na entrada era ou não de um morador, o porteiro optou por abrir o portão. “Estou nos primeiros dias de trabalho. Até estranhei o carro, mas como insistiu, acabei liberando”, diz o recém-contratado, que não passou por nenhum treinamento antes de assumir o cargo.
No último teste, não houve dificuldade em conseguir acesso ao condomínio de poucas vagas de estacionamento. Diante da rua sempre movimentada no Jacarecanga, o porteiro se apressa em liberar a entrada para evitar o congestionamento. “Tinha um carro atrás do seu que era do condomínio. Por isso liberei”, despista.
O POVO tentou contato com o Sindicato dos Porteiros do Ceará, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.
ENTENDA A NOTÍCIA
A segurança de condomínios residenciais de Fortaleza se mostra falha. O POVO tentou entrar em seis deles, de diferentes classes sociais, com carro descaracterizado. Sem o motorista se identificar, conseguiu acesso em todos. Poderia ser qualquer pessoa, bem intencionada ou não.
SAIBA MAIS
No condomínio com duas entradas para veículos, no Benfica, avistamos de longe um dos portões aberto sem que nenhum carro estivesse esperando para entrar. Pedestres acabavam entrando no condomínio por esse portão.
Esperamos até ser fechado para não comprometer o teste. Porém, o porteiro negou a nossa entrada. “É preciso se identificar”, alertou. Explicamos do que se tratava e seguimos para o outro portão, na rua de trás.
Para nossa surpresa, não houve comunicação entre os porteiros e acabamos tendo acesso ao condomínio. Paramos, inclusive, para que Iana Soares fizesse fotos internas do local.
O gerente comercial especializado em segurança, Carlos Falcão, enaltece o papel do síndico no processo de fortalecer a segurança nos prédios. “Ele deve estar atento ao bom funcionamento do condomínio. Quando se trata de segurança, não pode ter falhas”, aponta.
Viviane Gonçalves
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