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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

PADRE MARCELO ROSSI NA BIENAL DO LIVRO NO RIO DE JANEIRO

Bienal do Rio

A hora do horror do padre Marcelo

Multidão histérica cerca o estande da Globo Livros onde clérigo best-seller distribui autógrafos e não serena nem quando ele puxa uma oração

Mariana Zylberkan

De longe, uma das atrações mais concorridas da Bienal do Livro do Rio foi a sessão de autógrafos do padre Marcelo Rossi, organizada na tarde desta quarta-feira no Riocentro em torno de Ágape (Globo), último livro do clérigo best-seller. Como o título, que em latim significa amor ao próximo, foi lançado em 2010, a ida do padre à feira pode ser vista como uma estratégia da editora para povoar seu estande e ampliar suas vendas no evento. Estratégia que deu certo. A visita do padre atraiu milhares à Bienal – a editora fala em 30.000 leitores-fiéis. Os devotos se avolumaram diante do espaço da Globo Livros com ânimos exaltados e máquinas fotográficas em punho, e nem as orações puxadas diante da turba pelo popstar da batina foram capazes de sublimar
seu temperamento
Mariana Zylberkan/VEJA
Vítor e família, que pernoitaram no Riocentro à espera do Padre Marcelo Rossi


Os devotos começaram a chegar cedo para a sessão –
mais precisamente às 2h da madrugada desta quarta. “Eu não estou aqui pelo padre, mas por sua bênção. E pela fé, é claro”, disse Vitor Nascimento, de 36 anos, que pernoitou em frente ao Riocentro -- entre as 2h30 e as 10h da manhã, quando os portões finalmente abriram.


Foi só os portões abrirem para o clima de vigília entre os fiéis dedicados e pacientes dar logo lugar a uma afobação dos infernos. Um carrinho de criança quase foi esmagado na pressa descontrolada dos leitores. “Cuidado com a minha filha, pelo amor de Deus”, gritava a mãe desesperada, enquanto os devotos pulavam o carrinho onde a criança berrava, assustada. “Toda essa violência só para ver um padre? Imagina se fosse para ficar perto do Roberto Carlos”, comentou alguém, com humor, no meio da multidão.


“É impossível organizar uma fila aqui no Riocentro, o espaço é muito grande”, reclamou Bruno de Souza Santos, de 29 anos. Ele não madrugou em frente ao portão, como fez Vítor e sua família, mas era o primeiro da fila organizada pela editora para ganhar a assinatura do padre. “Cheguei às 9h e consegui correr na frente de todos quando os portões abriram.” O sacrifício de Souza, na verdade, não era por ele: era para guardar lugar para sua avó, essa sim, devota inveterada de padre Marcelo Rossi. “Não posso correr por causa de um problema de varizes inflamadas”, contou Ivonny de Souza, de 81 anos.

  
Fila de devotos em busca da assinatura de Padre Marcelo, na Bienal do Livro do Rio


Após se recuperar da dificuldade de entrar no evento, muitos fiéis tiveram de encarar um novo obstáculo: a notícia de que o padre Marcelo Rossi só deitaria autógrafo em exemplares adquiridos na própria Bienal – devidamente identificados com um pequeno adesivo na contracapa. A informação gerou um princípio de tumulto. “Isso é coisa da editora, o padre nunca iria ceder a isso”, protestou João Moraes, um dos primeiros da fila até descobrir que carregava o livro certo -- mas errado.


Aos olhos dos fãs, padre Marcelo Rossi é um santo capaz de ficar sentado numa cadeira, em pleno feriado da Independência do Brasil, entre meio-dia e 23h (previsão para o término da sessão), para não deixar de atender a nenhum devoto. A dedicação aos seguidores rende ao clérigo 15% do preço de capa de Ágape, vendido a 19,90 reais. O valor, segundo assessores, está sendo revertido para a construção de um santuário no bairro de Itaquera, em São Paulo. A inauguração está prevista para o início do mês de dezembro. A Globo Livros afirma estar prestes a alcançar a marca de 5 milhões de livros vendidos, o que resultaria em algo como 15 milhões de reais para o projeto.
No final das contas, Marcelo Rossi não deu importância ao adesivo exigido pela editora para os autógrafos aos exemplares de Ágape. O padre rubricou os livros sem distinção, como um bom cristão. 

fonte: Maryana Zylberkan/Veja

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