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domingo, 1 de janeiro de 2012

Faroeste no Sertão

O crime se espalhou pelo Ceará em 2011. Avançou no Interior, sem reduzir sua presença em Fortaleza. O desencontro de estatísticas dificulta o combate
Assaltos a banco se espalharam pelo Ceará ao longo de 2011 (DEIVYSON TEIXEIRA )
Janaína Brás
janainabras@opovo.com.br
 
A migração do crime organizado para o Interior cearense, ano a ano, afasta do imaginário das já não tão pequenas cidades os muros baixos e as conversas à calçada. Caixas eletrônicos explodidos, destacamentos policiais rendidos e cidades sitiadas pelas quadrilhas interestaduais não destoam mais no noticiário. Dentro das casas, os interioranos observaram as quadrilhas praticamente não repetirem cidades e chegarem a Fortaleza com mais força a partir do segundo semestre último. Foram oito ações na Capital em 2011, contra 23 nos demais municípios.

Em um dos sustos, acontecido dia 14 de agosto, os homens invadiram a Secretaria Executiva Regional II, no bairro Edson Queiroz, Fortaleza, arrombaram caixa eletrônico do Banco do Brasil e desejaram “bom dia dos pais” aos seis reféns, antes de saírem. A ousadia dos criminosos faz escola nas cidades menores: o dia 3 de março, em Cariús, na região Centro-Sul do estado, começou com ônibus feito refém. Ficou atravessado na estrada, com os pneus furados para impedir a passagem das viaturas policiais. Os 10 a 15 homens renderam os guardas, dinamitaram o cofre e levaram o dinheiro.

Do início do ano até o começo de dezembro, foram noticiadas pelo O POVO 37 ações contra caixas eletrônicos e bancos do Ceará – seis foram na Região Metropolitana de Fortaleza, nove na Capital e 22 no Interior. Em 12 das acontecidas no Interior, a Polícia informou ao jornal o êxito da ação – o dinheiro havia sido levado. Solicitamos os mesmos dados à Secretaria de Segurança Pública e Desenvolvimento Social do Estado do Ceará (SSPDS), mas os dados não bateram (veja coordenada).

As informações desencontradas da Secretaria também fazem falta à sociedade. De acordo com o reitor da Universidade Regional do Cariri (Urca), José Patrício Melo, o combate ao crime é muito dificultado pela escassez de estatística. “Por isso estamos (a Urca) articulando as graduações de direito, ciências sociais e geografia para criação de observatório, com banco de dados, sobre violência. O objetivo é começar a pesquisa em janeiro de 2012”, anuncia o professor.

Sobre o perfil dos crimes, o sociólogo e diretor geral da Academia Estadual de Segurança Pública (Aesp), César Barreira, adianta: há migração da violência em direção ao Interior do Estado, mas não se trata de transferência do crime, o que esvaziaria a Capital do perigo. Há, ao invés disso, crescimento do contingente criminoso, com consequente expansão geográfica da área de atuação.

Os fluxos migratórios, de acordo com o comandante da Polícia Militar do Ceará, coronel Werisleik Pontes, têm como uma das causas “a ação mais incisiva da Polícia no Sudeste. As duas capitais-alvo são Fortaleza e Salvador. Por isso é fundamental melhorar o policiamento das divisas”. Existe resposta à vulnerabilidade das divisas, mas ainda não tem data para sair do papel. São 38 homens treinados pelo Batalhão de Choque para o Comando Tático Rural (CTR).

O efetivo permanece com ações experimentais, porque a compra das oito viaturas previstas para o trabalho efetivo ainda não foi liberada pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) – a previsão era para iniciarem os trabalhos no começo do último semestre. “A ação, para acontecer da maneira como foi pensada, precisa das viaturas. Esperamos que até o fim do ano comece”, explica o titular da SSPDS, Fernando Bezerra.

Fato

De janeiro até o começo de dezembro, foram pelo menos 37 ações criminosas contra caixas eletrônicos e bancos no Ceará, segundo o noticiário do O POVO, cujos dados estão surpreendentemente mais completos que os da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social. Foram nove ações em Fortaleza, seis na Região Metropolitana e 22 no Interior. O crime avançou no Sertão, sem se afastar dos grandes centros.

Novas formas da violência

O advogado Ramon Rocha vive em Limoeiro do Norte, Baixo Jaguaribe, há 20 anos e relata: “O Interior estava habituado à pistolagem, ao crime encomendado. A violência urbana presente hoje não é encomendada, pode atingir qualquer um”. Rocha afirma que a combinação de crescimento populacional de Limoeiro sem aumento equivalente de efetivo policial não poderia resultar em boas notícias.

Quando as quadrilhas chegam aos pequenos municípios, duas práticas se encontram: a migração do crime e as possibilidades de ação facilitadas pelo isolamento das pequenas cidades. “A prática histórica no Brasil de sitiar cidades é possível quando a população é pequena e o efetivo policial também. Então, cria-se nova prática, a partir da união entre a migração moderna do crime organizado e o sítio histórico”, analisa César Barreira.

Como o acontecido no município de Ocara, em 28 de setembro. Seis homens armados com fuzis e espingardas destruíram a frente da agencia do Banco do Brasil. Não conseguiram levar o dinheiro, mas aterrorizaram a população com tiros em várias fachadas de casas, no telefone público, nos carros e num transformador da rede elétrica.

O promotor Adriano Saraiva morou longo período em Icapuí e se surpreendeu com a insegurança: “São 20 mil habitantes, mas a violência é de cidade grande. O uso de drogas assusta”.

Conforme o comandante da Polícia Militar do Ceará, coronel Werisleik Pontes, são 5,8 mil PMs no Interior do Estado. Em janeiro passado, eram 5,2 mil. “Não é o suficiente”, admite. O edital para contratar três mil novos policiais militares (mil para cada um dos próximos anos de governo Cid Gomes) e 740 inspetores (Polícia Civil, todos para 2012) foi lançado na segunda semana de novembro último.

Quem se responsabiliza pelas estatísticas?

Desde o começo da reportagem, a apuração das estatísticas criminais foi problema. A repórter fez a apuração própria a partir do banco de dados do jornal. Em paralelo, pediu os números à Secretaria. Quando chegaram, três semanas depois da solicitação, a surpresa. O órgão chamou de tentativa de ação a sete crimes registrados pelo O POVO (porque assim nos relataram os delegados responsáveis pelos inquéritos) como bem sucedidos.

Questionados sobre o desencontro, o titular da SSPDS e o da DRF não souberam explicar a situação. “Tentativa é quando não levam dinheiro nenhum. Se conseguiram levar o dinheiro, foi roubo ou furto, não tentativa”, concorda o delegado Romero Almeida.

“Às vezes, o delegado, no calor do momento, dá informação errada”, arriscou o assessor de comunicação do órgão. Enquanto isso, estatísticas subestimam os crimes.

Não curti
Há migração, mas não transferência de crime para o Interior. O que há é aumento do número de criminosos, com expansão da área geográfica em que atuam

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câmeras de vigilância fixas e cinco móveis foram instaladas pelo Governo do Estado em Fortaleza. Mais 100 serão adquiridas

Um comentário:

  1. ESTOU APREENSIVO E PREOCUPADO COM ESTA SITUAÇÃO DA FALTA DE CHUVA NO SERTÃO.O GOVERNO NA SUA FRAGILIDADE PARA AGIR DE VERDADE,AINDA NÃO SE EFETIVOU NAS AÇÕES CONCRETAS.QUANDO ISTO VAI ACONTECER?É BUROCRACIA DEMAIS E O POVO QUE SE DANE.

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