O ex-ministro da Integração também foi acusado de beneficiar seu estado. E foi premiado com uma vice-presidência da Caixa
Hélio Doyle
O que o ministro Fernando Bezerra fez, destinando a maior parte das verbas de seu ministério para o estado onde faz política e cujo governador lhe dá sustentação, é o que praticamente todos os ministros fazem desde os mais longínquos tempos. Não é preciso aprofundar nenhuma investigação, basta verificar os números e se lembrar de uma infinidade de denúncias sobre o mesmo tema que apareceram e desapareceram em nossa imprensa.
Não se justifica por isso o favorecimento de Pernambuco, claro. É injustificável privilegiar, no exercício de uma função pública, sua região eleitoral em detrimento de outras, especialmente se essas outras são mais necessitadas dos recursos. Fale o que quiser, Fernando Bezerra caiu na vala comum dos muitos ministros que fazem isso. Mas práticas como essas são rotineiras e as denúncias contra Fernando Bezerra ganharam mais relevância por duas razões: as enchentes e desabamentos com vítimas no Rio de Janeiro e em Minas Gerais e o fato de ser ele do PSB e ligado ao governador, tido como presidenciável, Eduardo Campos.
Essas duas razões também em nada justificam o privilégio que o ministro dá a Pernambuco, e não diminuem o peso das acusações. A tática de justificar desmandos apenas desqualificando os acusadores e desvendando motivações políticas ou pessoais em nada diminuem a importância das denúncias – desde que fundamentadas.
O sistema é este, às vezes academicamente chamado de “presidencialismo de coalizão”, outras vezes explicado como necessário à “governabilidade”. O sistema é claro: partidos reivindicam ministérios para fazer caixa graças aos contratos com fornecedores e prestadores de serviços; governadores reivindicam ministérios para que seu estados sejam beneficiados com verbas deles originárias. As duas situações podem se completar, mas não necessariamente. É assim que funciona.
Os ministérios são entregues a partidos e a segmentos de partidos, ou diretamente a políticos influentes. Assim como a eles são entregues cargos de direção em autarquias e empresas públicas. A partir daí é por conta dos beneficiados: desviem o dinheiro que puderem desviar, em favor de projetos político-eleitorais ou pessoais. Mas não se deixem pegar.
O favorecimento de estados e municípios onde os titulares das funções públicas se candidatam, elegem-se ou contribuem para eleger alguém é outra face da mesma moeda. Não há, necessariamente, corrupção nisso. Há manipulação dos recursos públicos com objetivos eleitorais.
Quem, porém, vai mudar isso? Volta-se à justificativa nada republicana de que é assim que funciona desde sempre e qualquer mudança no sistema tão bem implantado provocará reações contrárias de políticos, partidos e parlamentares, tornando o país ingovernável. Em momento de dificuldades econômicas, para que uma crise política? É melhor deixar as coisas correrem, pois o custo acaba sendo absorvido pela sociedade, que dá alguns espasmos de indignação mas está anestesiada e posta em relativo conforto.
Basta lembrar que o antecessor de Fernando Bezerra no Ministério da Integração Nacional é o ex-deputado Geddel Vieira Lima. Ele foi acusado de destinar a maior parte dos recursos da pasta para a Bahia (quase 40%), seu estado. Depois de dar as desculpas furadas de praxe, Geddel, que é do PMDB, candidatou-se ao governo do estado e perdeu. O tempo passa, o tempo voa, e ele continua numa boa: é vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal.
Alguém acha que vai mudar alguma coisa? O sistema é mais forte.
fonte: Brasil 247
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