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sábado, 11 de fevereiro de 2012

Crescem 875% acidentes com motos no Ceará


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O Detran ainda não possui nenhuma campanha direcionada apenas para mulheres
FOTO: KIKO SILVA
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No Brasil, de 1996 a 2010, a quantidade de mortes em acidentes com estes veículos aumentou 16 vezes
O número de acidentes fatais com moto, entre mulheres, aumentou 875%, de 1996 a 2010, no Ceará, passando de oito para 78 casos. O dado é do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), divulgado ontem pelo Ministério da Saúde. A quantidade de vítimas do sexo feminino vem crescendo sensivelmente. No entanto, o número de homens envolvidos em acidentes de trânsito ainda é bem superior ao de mulheres.

De acordo com o Departamento Estadual de Trânsito do Ceará (Detran-Ce), no ano passado, morreram 1.770 homens e 9.328 ficaram feridos em acidentes. Já entre as mulheres, 291 faleceram e 2.394 ficaram feridas. Em 2010, esse número era maior. Foram 2.565 pessoas do sexo feminino feridas em acidentes de moto.

No Brasil, de 1996 a 2010, a quantidade de mortes de pessoas do sexo feminino em acidentes com motocicletas cresceu 16 vezes, enquanto o número de homens que morreram nestas ocorrências aumentou 13 vezes no mesmo período.

Os acidentes com motocicletas são temas de grandes preocupações por parte das autoridades, órgãos de trânsito e especialistas da área, sendo considerado um problema de saúde pública, principalmente quando se trata de motos.

Um dos fatores preponderantes no incremento do número de acidentes é o aumento da frota de motocicletas, meio de transporte utilizado por 10,2 mil dos 41 mil brasileiros que perderam a vida no trânsito em 2010. De acordo com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, especialmente em cidades com menos de cem mil habitantes, tem aumentado o número de motociclistas, inclusive do sexo feminino, tornando as mulheres mais vulneráveis aos acidentes de trânsito.

No Ceará não é diferente. Segundo a diretora de planejamento do Detran-CE, Lorena Moreira, o número de pessoas do sexo feminino conduzindo motocicletas aumentou, inclusive porque o veículo é usado como meio de transporte para o trabalho. "Cresceu a quantidade de mulheres que hoje ocupam profissões que dependem de meios de transporte e que antes era estritamente dos homens, como a de entregador", destaca.

Outro agravante é que o consumo abusivo de bebidas alcoólicas por elas vem apresentando tendência de crescimento apontado pela pesquisa Vigitel (Vigilância de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) 2010. O risco está em associar a bebida com a direção, o que também vem acontecendo com frequência.

Lorena aponta o grau de estresse no trânsito e a imprudência pelo não uso de capacete, por exemplo, como outras causas para a elevação de ocorrências. Ela informa que o Detran não realiza nenhuma campanha específica para as mulheres a fim de conter o crescimento de mortes, mas afirma que o foco do órgão são os motociclistas em geral, já que o número de homens que se acidentam com motos ainda é consideravelmente maior.

Para o professor da Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Fortaleza (Unifor), Marcus Lima, as cidades não têm o desenho apropriado para a circulação de motocicletas. "É uma opção às camadas com menos poder aquisitivo, mas o incremento de veículos a cada ano é enorme". Segundo Lima, tem de haver disposição para mudar esse paradigma. "É um processo irreversível", acrescenta.

O professor da Unifor destaca que os constantes engarrafamentos e a diminuição do tempo de trânsito geram estresse e, consequentemente, acidentes. "Não adianta abrir ruas. A solução é uma mudança da mentalidade em que os veículos predominam sobre a vida das pessoas. Existem outras alternativas, como um transporte de qualidade".

Já para a professora especialista em Saúde Pública da Unifor, Augediva Maria Juca Pordeus, o animal de tração vem sendo substituído por motocicletas no Ceará por conta da facilidade de acesso. "Podemos observar cada vez mais mulheres conduzindo motos. A busca pela mobilidade urbana obriga a pessoa a usar veículo individual".

A professora considera o problema uma situação comportamental e, para ela, as iniciativas a fim de remediar o aumento da frota e o não uso do transporte público são insignificantes.

LINA MOSCOSO
REPÓRTER/DN

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