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segunda-feira, 2 de julho de 2012

Título de Patrimônio Mundial impõe ao Rio compromisso com a preservação


Prêmio da Unesco pode ser retirado caso a cidade não receba os devidos cuidados

IMAGEM AÉREA da Cidade Maravilhosa: interação entre a beleza natural e a população carioca rendeu o título de Patrimônio Mundial, concedido pela Unesco, em votação unânime
Foto: Pedro Kirilos / O Globo
IMAGEM AÉREA da Cidade Maravilhosa: interação entre a beleza natural e a população carioca rendeu o título de Patrimônio Mundial, concedido pela Unesco, em votação unânimePEDRO KIRILOS / O GLOBO
RIO - A elevação do Rio a Patrimônio Mundial como paisagem cultural, anunciada na manhã deste domingo em São Petersburgo, na Rússia, após decisão unânime e inédita da Unesco, coloca desafios para a cidade. A partir de agora, os locais que justificaram o título — o Pão de Açúcar, a Floresta da Tijuca, o Aterro do Flamengo e a Praia de Copacabana, entre outros — deverão ter sua ambiência preservada.
A ministra da Cultura, Ana de Hollanda, que apresentou, em português, a candidatura do Rio durante a sessão da Unesco com a participação dos 21 países que integram o comitê, ressaltou a responsabilidade da cidade e do Brasil em relação ao título. Segundo ela, a partir de agora, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) terá de enviar relatórios frequentes à Unesco:
— Todos os locais mencionados na proposta de candidatura passarão a ser acompanhados pela Unesco e nós vamos apresentar relatórios dos trabalhos que forem feitos. O compromisso de manter isso é muito importante. E nós vamos honrar esse compromisso com a Unesco.

É possível haver a perda do título caso a região contemplada não receba os cuidados adequados para a manutenção das características que a consagraram Patrimônio Mundial. Por isso, é preciso enviar sempre informações à Unesco sobre a gestão dessas áreas.
De acordo com o presidente do Iphan, Luiz Fernando de Almeida, os locais que embasaram a conquista do Rio terão que ser preservados. Caso contrário, a cidade pode perder o título. Para ele, preencheu-se uma lacuna na listagem do Patrimônio Mundial:
— É um reconhecimento muito importante. Se observarmos que a lista do Patrimônio Mundial representa o país, então faltava nela o Rio, que representa a imagem mais difundida do patrimônio brasileiro no mundo.
O presidente do Iphan também destacou a importância das políticas públicas neste momento para que a cidade mantenha a conquista.
— Temos que conseguir construir uma política pública que harmonize com as políticas que são de natureza setorial: política de habitação, de meio ambiente, etc. Pensaremos numa política transversal que consiga realmente responder aos desafios de fazer a gestão de um território.
Cariocas e turistas comemoram o novo título em dia de sol e céu azul
A notícia de que o Rio foi reconhecido mundialmente como uma bela paisagem cultural urbana foi comemorada por cariocas e turistas que aproveitavam o domingo de céu azul e o sol vibrante em pleno inverno. Com o Cristo Redentor e o Pão de Açúcar tatuados na perna direita, a estudante Ingrid Barros esbanjava o sorriso de quem se orgulha do lugar onde vive. O desenho foi feito no último dia 1º de março, aniversário da cidade, como homenagem.
— Acompanhei a votação e vibrei com o resultado. Tanto as belezas naturais quanto as pessoas da cidade são especiais e diferentes de qualquer lugar do planeta — disse.
Pela primeira vez na cidade, o coordenador de transportes Maurício de Souza também acha que a cidade mereceu:
— Já achava a cidade bonita, mas ao vivo é melhor ainda. Mesmo sendo de Santos, fico contente com o título — elogiou ele, que ontem fez uma caminhada no Aterro do Flamengo e tirou muitas fotos.
Mineira, a guia de turismo Eugênia Machado vive no Rio há 25 anos e se declara apaixonada pela cidade e pelo bairro que escolheu para morar, Copacabana.
— Tenho paixão por este lugar, e agora todos vão saber o quanto é lindo — comemorava Eugênia, que neste domingo passeava pela orla ao lado da irmã, Gesolina de Paula.
Repercussão também nas redes sociais
A vitória do Rio como Patrimônio Mundial foi comemorada nas redes sociais como se fosse final de campeonato de futebol. Orgulhosos, os cariocas compartilharam imagens da cidade e discutiram sobre a decisão unânime em que 21 países elegeram o Rio como patrimônio da humanidade.
No Facebook, um post da ONG Rio Eu Amo Eu Cuido teve mais de 2 mil compartilhamentos. E os mais de 200 comentários parabenizavam os cariocas pela conquista.
Nos trending topics do Rio de Janeiro no Twitter, os assuntos Patrimônio Cultural da Humanidade e Unesco estavam entre os mais comentados na rede social. A cantora Preta Gil comemorou a notícia com a hashtag #OrgulhodeSerCarioca.
No Instagram, os cariocas aproveitaram o dia ensolarado para tirar fotos de vários monumentos históricos, como o Cristo Redentor e o Pão de Açúcar e homenagearam a cidade.
Título demorou uma década para chegar
A Unesco incorporou o conceito de paisagem cultural a suas diretrizes em 1992 e, desde então, a categoria foi incluída na lista do Patrimônio Mundial, reconhecimento instituído pela convenção de 1972 da entidade. Locais onde a interação humana com a natureza ocorre de forma harmônica podem ser indicados ao título por meio de dossiês com argumentos que justifiquem a escolha.
A primeira candidatura do Rio a patrimônio mundial foi apresentada em 2002, mas não foi adiante. Em setembro de 2009, o (Iphan), em parceria com o governo estadual, a prefeitura, a Fundação Roberto Marinho e a Associação de Empreendedores Amigos da Unesco, entregou à organização o dossiê completo da pretensão do Rio, justificando o valor universal da cidade em função da interação entre a beleza natural e seus moradores.
Jurema Machado, coordenadora de Cultura da Unesco no Brasil, acompanhou todas as tentativas do Rio de conquistar o título. Para ela, a cidade ainda tem muito a fazer, como despoluir a Baía de Guanabara, reduzir a ocupação de áreas verdes e recuperar áreas degradadas. No entanto, ela reconhece a cidade como excepcional:
— O Rio tem condições geológicas marcantes e sua ocupação, historicamente, dialogou de forma harmônica e criativa com essas características naturais. Os jardins de Burle Marx, no Flamengo, e o calçadão de Copacabana, que remete às formas das ondas do mar, são exemplos disso. A cidade, às vezes, se rende à natureza e por outras interfere nela, criando uma nova natureza.


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