Diretor de Políticas de Desenvolvimento do Banco do Nordeste (BNB)
A agricultura familiar responde por mais de 60% da produção de alimentos no País, fazendo com que o pequeno agricultor faça parte da cadeia do consumo também
Hoje, qual é o principal foco das políticas de desenvolvimento para o Estado? O consumo faz parte dessa política também?
Essas políticas de grandes investimentos e de obras estruturantes além de importantes, não são conflitantes com as ditas sociais, além de fundamentais se destinam também aos pequenos produtores. Diria que são políticas complementares e necessárias porque não se pode fazer desenvolvimento financiando apenas o pequeno, como também não se pode, financiando só o grande. Deve ser feito com os dois e de forma simultânea.
Como se dá a relação entre os pequenos e grandes investidores? É desigual?
O Pronaf responde, hoje, por 70% da clientela e mais de 60% dos recursos do programa em toda região. Por outro lado, somos financiadores de mais de 60% dos recursos de médio e longo prazos para os grandes projetos. No Ceará, a proporção é semelhante. Destacamos a participação na agricultura familiar não apenas em termos de quantidade, mas de qualidade.
Como pode ser percebida essa evolução?
Se pensarmos na inadimplência do Pronaf, há seis e sete anos, estava em torno de 20% a 30%. Hoje, a inadimplência dessas carteiras é em torno de 3% e 3,5%.
A que o senhor atribui esse salto de qualidade?
Atribuímos à qualidade do acompanhamento, justamente, o que acontece com o Pronaf, agora, ao utilizar a metodologia do Agroamigo que conta com a figura do assessor de crédito, um técnico agrícola que faz o acompanhamento do crédito para o pequeno, o que não existia antes. A pessoa chegava tirava o dinheiro e não sabia como iria aplicar.
Podia até usar o dinheiro em outro fim?
Podia, o que seria um desvio de crédito, e a legislação prevê sanções. Com o Agroamigo, o agricultor sabe o que vai tirar e tem o seu pequeno plano de negócio. Temos estudos mostrando essa mudança que serviu para evitar o desvio e incentivou a boa aplicação. Depois do acesso ao crédito, o cliente continua sendo acompanhado. Temos clientes da carteira do Agroamigo com cinco anos e cinco contratos. É importante a escolha do assessor de crédito.
Como acontece a sua escolha?
São pessoas da região. Por exemplo, nosso assessor de crédito que trabalha no Sertão Central é da região de Quixadá e Quixeramobim. Este é o primeiro aspecto. Outro, é que vem ao lado de outras políticas públicas como os programas Luz para Todos e o Bolsa Família. Há programas de alfabetização também. Estão sendo enfatizadas duas dimensões: a questão ambiental, sobretudo de proteção da desertificação da caatinga, no semiárido; e o processo de difusão tecnológico. Grande parte das tecnologias está com os grandes produtores.
A extensão e o incentivo de crédito ao homem do campo constituem formas de inserir o agricultor na cadeia do consumo?
Sim, do mercado, lógico. É um processo de inserção do mini e do pequeno produtor de um pronafiano dentro das estrutura de mercado. Parte significativa dessa produção é para o consumo, e outra, para a venda em feiras de agricultura familiar, feiras da cidade ou no comércio local. Este é o objetivo do programa.
Existe algum estudo mostrando a relação entre consumo e programas de incentivo ao crédito?
Temos um estudo indicando o impacto do Pronaf e do Bolsa Família. Com relação ao Pronaf, de cada real que se aplicado em torno de 0,30 e 0,35 centavos retomam como tributos porque entram no processo produtivo. É importante mostrar que, em função das políticas do Pronaf, conseguimos gerar mais de 100 mil empregos indiretos através de dinamismo, venda de insumos, assistência técnica, comércio e serviços s ligados a este público.
A estratégia serve para evitar as migrações no Nordeste?
A entrada dele no mercado é outro aspecto positivo do programa uma vez que serve para sua fixação no campo. A questão do crédito é fundamental, mas ele é feito em conjunto com outras políticas como de educação e saúde.
Então, não se trata apenas da chegada do capital ao campo?
Este empréstimo é produtivo e não para o consumo, lógico que tem impacto no consumo, também. Mesmo porque quanto se produz, começa a consumir também. Quando se produz, começa a consumir. A questão do crédito é fundamental.
O Agroamigo prova que pobre é mesmo bom pagador?
Isso tem sido comprovado, sim, até mesmo pela própria inadimplência que varia entre 3% a 3,5%, próxima ao do mercado financeiro em geral, por exemplo.
Quais são os critérios para conseguir o crédito? As exigências como a própria safra, em alguns casos, continuam?
Não. No Agroamigo, a burocracia é mínima. Não tem garantia real, ele não precisa ter terra. O que se exige é exatamente uma declaração do sindicato de que a pessoa é agricultor familiar.
Qual a variação do valor desses empréstimos?
Temos vários tipos de Pronafs. O que se opera mais é o B, podendo variar em torno de R$ 800,00 até R$ 2.500,00. O mais importante é que não se restringe apenas à agricultura, mas para outras atividades não agrícolas, artesanato, Pronaf Jovem e Pronaf Mulher.
Com relação ao Pronaf Jovem, ele consegue mudar a cultura da migração nas novas gerações?
É preciso criar uma geração no campo dentro de uma metodologia de microcrédito. Adaptamos o microcrédito do Crediamigo que é vitorioso ao setor rural. O Pronaf hoje possui indicadores mostrando que esta migração, de alguma, está caindo. Aliás, existe uma de volta.
O que esses "pequenos" clientes representam para o banco, uma vez que, antes, eram barrados na porta?
Não entravam. Atualmente, atingimos um milhão de operações do Agroamigo. Temos em torno de 500 a 600 mil clientes na nova versão do Pronaf, embora ainda tenhamos clientes na metodologia antiga. A expectativa é de atender a cerca de 150 mil famílias no Ceará.
Outra crítica é quanto à taxa de juro. Qual o valor atual?
A taxa de juro gira em torno de 2% e 2,5%, mas na verdade, pode ficar até negativa, devido aos rebates que variam entre 25% e 30%. Isso é importante para fazer com que as pessoas paguem em dia.
Por que essa ênfase na mulher? Ela é melhor pagadora?
A questão de gênero trabalhada no programa, é importante porque a mulher é responsável pela manutenção do núcleo familiar. É praticamente 50% a participação feminina no Agroamigo. Embora no campo devido ao aspecto cultural o homem predomine. Na área urbana, as mulheres já são maioria. No campo, o machismo é mais forte.
Como trabalhar o crédito entre agricultores no Nordeste acostumados ao longo de vários anos com políticas paternalistas?
É um crédito produtivo. É preciso diferenciar as funções do Bolsa Família e do Agroamigo. O Bolsa Família é uma política de governo fundamental de renda mínima, necessária para dar condições mínimas de sobrevivência às pessoas. Estamos vivendo período de seca e não vemos saques. Ao andar pelo Interior não se vê aquela fome, as pessoas estão bem mais alimentadas, e o processo de migração diminuiu. Ele se torna um programa que funciona como uma das portas de saída do Bolsa Família.
A falta de chuva, neste ano, pode comprometer o programa?
Avaliamos que esse índice de inadimplência será marginal. A falta de chuva vai afetar, mas não como antigamente, quando era mais generalizada. Hoje, existe um maior grau de segurança devido ao melhor acompanhamento e das políticas sociais do governo. Na realidade, o que se chama de seca são anos normais no semiárido.
O que a agricultura familiar representa para a produção de alimentos no Brasil?
Ela representa mais de 60% da produção de alimentos populares, como arroz e feijão. É a principal responsável pela produção de comida para o povo.
Quem é
José Sydrião
José Sydrião de Alencar Júnior, economista, doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Professor da Universidade de Fortaleza (Unifor), é diretor de políticas de Desenvolvimento do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) . No atual cenário socioeconômico do Nordeste considera que as políticas de grandes investimentos devem andar de mãos dadas com as políticas sociais. O Agroamigo é um exemplo de programa de crédito produtivo voltando ao mini e pequeno agricultor. Destaca a figura do assessor de crédito como uma garantia para o êxito do programa que consiste em inserir o mini e pequeno agricultor na estrutura de mercado.
IRACEMA SALES
REPÓRTER
fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=803144
Hoje, qual é o principal foco das políticas de desenvolvimento para o Estado? O consumo faz parte dessa política também?
Essas políticas de grandes investimentos e de obras estruturantes além de importantes, não são conflitantes com as ditas sociais, além de fundamentais se destinam também aos pequenos produtores. Diria que são políticas complementares e necessárias porque não se pode fazer desenvolvimento financiando apenas o pequeno, como também não se pode, financiando só o grande. Deve ser feito com os dois e de forma simultânea.
Como se dá a relação entre os pequenos e grandes investidores? É desigual?
O Pronaf responde, hoje, por 70% da clientela e mais de 60% dos recursos do programa em toda região. Por outro lado, somos financiadores de mais de 60% dos recursos de médio e longo prazos para os grandes projetos. No Ceará, a proporção é semelhante. Destacamos a participação na agricultura familiar não apenas em termos de quantidade, mas de qualidade.
Como pode ser percebida essa evolução?
Se pensarmos na inadimplência do Pronaf, há seis e sete anos, estava em torno de 20% a 30%. Hoje, a inadimplência dessas carteiras é em torno de 3% e 3,5%.
A que o senhor atribui esse salto de qualidade?
Atribuímos à qualidade do acompanhamento, justamente, o que acontece com o Pronaf, agora, ao utilizar a metodologia do Agroamigo que conta com a figura do assessor de crédito, um técnico agrícola que faz o acompanhamento do crédito para o pequeno, o que não existia antes. A pessoa chegava tirava o dinheiro e não sabia como iria aplicar.
Podia até usar o dinheiro em outro fim?
Podia, o que seria um desvio de crédito, e a legislação prevê sanções. Com o Agroamigo, o agricultor sabe o que vai tirar e tem o seu pequeno plano de negócio. Temos estudos mostrando essa mudança que serviu para evitar o desvio e incentivou a boa aplicação. Depois do acesso ao crédito, o cliente continua sendo acompanhado. Temos clientes da carteira do Agroamigo com cinco anos e cinco contratos. É importante a escolha do assessor de crédito.
Como acontece a sua escolha?
São pessoas da região. Por exemplo, nosso assessor de crédito que trabalha no Sertão Central é da região de Quixadá e Quixeramobim. Este é o primeiro aspecto. Outro, é que vem ao lado de outras políticas públicas como os programas Luz para Todos e o Bolsa Família. Há programas de alfabetização também. Estão sendo enfatizadas duas dimensões: a questão ambiental, sobretudo de proteção da desertificação da caatinga, no semiárido; e o processo de difusão tecnológico. Grande parte das tecnologias está com os grandes produtores.
A extensão e o incentivo de crédito ao homem do campo constituem formas de inserir o agricultor na cadeia do consumo?
Sim, do mercado, lógico. É um processo de inserção do mini e do pequeno produtor de um pronafiano dentro das estrutura de mercado. Parte significativa dessa produção é para o consumo, e outra, para a venda em feiras de agricultura familiar, feiras da cidade ou no comércio local. Este é o objetivo do programa.
Existe algum estudo mostrando a relação entre consumo e programas de incentivo ao crédito?
Temos um estudo indicando o impacto do Pronaf e do Bolsa Família. Com relação ao Pronaf, de cada real que se aplicado em torno de 0,30 e 0,35 centavos retomam como tributos porque entram no processo produtivo. É importante mostrar que, em função das políticas do Pronaf, conseguimos gerar mais de 100 mil empregos indiretos através de dinamismo, venda de insumos, assistência técnica, comércio e serviços s ligados a este público.
A estratégia serve para evitar as migrações no Nordeste?
A entrada dele no mercado é outro aspecto positivo do programa uma vez que serve para sua fixação no campo. A questão do crédito é fundamental, mas ele é feito em conjunto com outras políticas como de educação e saúde.
Então, não se trata apenas da chegada do capital ao campo?
Este empréstimo é produtivo e não para o consumo, lógico que tem impacto no consumo, também. Mesmo porque quanto se produz, começa a consumir também. Quando se produz, começa a consumir. A questão do crédito é fundamental.
O Agroamigo prova que pobre é mesmo bom pagador?
Isso tem sido comprovado, sim, até mesmo pela própria inadimplência que varia entre 3% a 3,5%, próxima ao do mercado financeiro em geral, por exemplo.
Quais são os critérios para conseguir o crédito? As exigências como a própria safra, em alguns casos, continuam?
Não. No Agroamigo, a burocracia é mínima. Não tem garantia real, ele não precisa ter terra. O que se exige é exatamente uma declaração do sindicato de que a pessoa é agricultor familiar.
Qual a variação do valor desses empréstimos?
Temos vários tipos de Pronafs. O que se opera mais é o B, podendo variar em torno de R$ 800,00 até R$ 2.500,00. O mais importante é que não se restringe apenas à agricultura, mas para outras atividades não agrícolas, artesanato, Pronaf Jovem e Pronaf Mulher.
Com relação ao Pronaf Jovem, ele consegue mudar a cultura da migração nas novas gerações?
É preciso criar uma geração no campo dentro de uma metodologia de microcrédito. Adaptamos o microcrédito do Crediamigo que é vitorioso ao setor rural. O Pronaf hoje possui indicadores mostrando que esta migração, de alguma, está caindo. Aliás, existe uma de volta.
O que esses "pequenos" clientes representam para o banco, uma vez que, antes, eram barrados na porta?
Não entravam. Atualmente, atingimos um milhão de operações do Agroamigo. Temos em torno de 500 a 600 mil clientes na nova versão do Pronaf, embora ainda tenhamos clientes na metodologia antiga. A expectativa é de atender a cerca de 150 mil famílias no Ceará.
Outra crítica é quanto à taxa de juro. Qual o valor atual?
A taxa de juro gira em torno de 2% e 2,5%, mas na verdade, pode ficar até negativa, devido aos rebates que variam entre 25% e 30%. Isso é importante para fazer com que as pessoas paguem em dia.
Por que essa ênfase na mulher? Ela é melhor pagadora?
A questão de gênero trabalhada no programa, é importante porque a mulher é responsável pela manutenção do núcleo familiar. É praticamente 50% a participação feminina no Agroamigo. Embora no campo devido ao aspecto cultural o homem predomine. Na área urbana, as mulheres já são maioria. No campo, o machismo é mais forte.
Como trabalhar o crédito entre agricultores no Nordeste acostumados ao longo de vários anos com políticas paternalistas?
É um crédito produtivo. É preciso diferenciar as funções do Bolsa Família e do Agroamigo. O Bolsa Família é uma política de governo fundamental de renda mínima, necessária para dar condições mínimas de sobrevivência às pessoas. Estamos vivendo período de seca e não vemos saques. Ao andar pelo Interior não se vê aquela fome, as pessoas estão bem mais alimentadas, e o processo de migração diminuiu. Ele se torna um programa que funciona como uma das portas de saída do Bolsa Família.
A falta de chuva, neste ano, pode comprometer o programa?
Avaliamos que esse índice de inadimplência será marginal. A falta de chuva vai afetar, mas não como antigamente, quando era mais generalizada. Hoje, existe um maior grau de segurança devido ao melhor acompanhamento e das políticas sociais do governo. Na realidade, o que se chama de seca são anos normais no semiárido.
O que a agricultura familiar representa para a produção de alimentos no Brasil?
Ela representa mais de 60% da produção de alimentos populares, como arroz e feijão. É a principal responsável pela produção de comida para o povo.
Quem é
José Sydrião
José Sydrião de Alencar Júnior, economista, doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Professor da Universidade de Fortaleza (Unifor), é diretor de políticas de Desenvolvimento do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) . No atual cenário socioeconômico do Nordeste considera que as políticas de grandes investimentos devem andar de mãos dadas com as políticas sociais. O Agroamigo é um exemplo de programa de crédito produtivo voltando ao mini e pequeno agricultor. Destaca a figura do assessor de crédito como uma garantia para o êxito do programa que consiste em inserir o mini e pequeno agricultor na estrutura de mercado.
IRACEMA SALES
REPÓRTER
fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=803144
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