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quinta-feira, 16 de junho de 2011

Quão forte é a força de vontade?


Em 1982, a estadunidense Angela Cavallo levantou um Chevrolet Impala para resgatar seu filho que havia ficado preso embaixo do veículo. Ou seja, uma mulher de tamanho médio segurou um carro de 1.350 quilos durante cinco minutos enquanto vizinhos puxavam o corpo ferido de seu filho para fora.
Todos nós já ouvimos histórias como essa antes, mas o que há de científico por trás delas? Como pode uma situação-limite, como o caso de Angela Cavallo, realmente transformar sua força de vontade em força física?
Os cientistas não são capazes de quantificar o ganho repentino de força, apesar de ser clara a mudança em uma pessoa que normalmente poderia no máximo levantar poucas dezenas de quilos para de repente conseguir suportar centenas.
“O pico de adrenalina é muito conhecido em situações como essas, mas ninguém nunca a analisou com números”, conta Bob Girandola, cinesiologista (profisisonal da ciência que estuda os movimentos).
A grande barreira para se intensificarem estudos nessa área é que situações de vida ou morte não podem ser reproduzidas em laboratório. E quando surge uma – quando o filho fica preso embaixo de um carro – nenhum cientista está perto para tomar notas.
Apesar disso, os cientistas possuem uma compreensão bastante sólida de como o cérebro aciona os “músculos instantâneos”.
Picos de força sobre-humana aparentemente fazem parte da chamada “resposta de lutar ou fugir”. Quando confrontado com uma situação de vida ou morte (ou de “lutar ou fugir”), você precisa que todos os seus sentidos, reflexos e músculos executem o seu melhor, ou até mesmo supere o que você é normalmente capaz de fazer. E a evolução é a responsável por criar um mecanismo para assegurar que isso aconteça.
Girandola compara o desempenho do corpo humano com o tacômetro (ou conta-giros) – o indicador de velocidade no painel de um carro. “Sobre o conta-giros, há uma linha vermelha acima do qual o veículo não deve, normalmente, ir, porque isso estragaria o motor”, diz Girandola. “Conosco, também existe um tipo similar de pseudolimite que você normalmente não ultrapassa. Se você desrespeitá-lo, você pode quebrar seus ossos, romper seus músculos etc”.
No entanto, em momentos de estresse extremo ou perigo, a adrenalina, também conhecida como epinefrina, jorra de suas glândulas suprarrenais. “E é a adrenalina que pode fazer você ultrapassar a linha vermelha do conta-giros”, compara Girandola.
“É possível que durante situações de estresse extremo e perigo, a adrenalina nos permita desbloquear o potencial verdadeiro de um músculo que não seria alcançado de forma voluntária”, explica Gordon Lynch, fisiologista da Universidade de Melbourne, Austrália, que estuda a forma como hormônios influenciam no trabalho dos músculos.
A adrenalina convoca mais “unidades motoras” – os nervos e as fibras musculares que controlam os movimentos – do que aquelas que são normalmente utilizadas no dia a dia. “Em muitos casos, nós podemos passar nossa vida inteira sem nunca realmente recrutar todas as unidades motoras disponíveis, a menos que sejamos colocados em situações raras de ‘luta ou fuga’”, conta Lynch.
No cérebro, a adrenalina diminui o medo. “Você faz coisas que normalmente não faria parte porque você esquece o medo envolvido”, comenta Girandola. Os kamikazes, homens-bomba suicidas japoneses que lutaram na Segunda Guerra Mundial, tomavam anfetaminas, drogas que são quimicamente semelhante à adrenalina, a fim de perder o medo para executar suas missões fatais. Em suma, a adrenalina nos tolhe o receio para que possamos fazer o possível (e o impossível, se considerarmos Angela Cavello) para superar a situação complicada em que estamos.

ESG

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