Ciclismo e mobilidade urbana
Escrito por Helena Martins
Qua, 02 de Fevereiro de 2011 12:27
Sou um ciclista eventual e é, a partir dessa experiência pessoal, mesclada com dados estatísticos e minha visão de mundo, que passo a escrever sobre a mobilidade em Fortaleza.
Pesquisando alguns dados, me dei conta de números interessantes. O Brasil tem, mais ou menos, a mesma quantidade de automóveis e de bicicletas: em torno de 60 milhões de cada unidade. Somos o 3º maior produtor e o 5º maior mercado de bicicletas no mundo. No entanto, quando observamos as políticas públicas, o que impressiona é o contrário. Enquanto a Holanda tem 34 mil km de ciclovias, no Brasil se calcula em apenas 2,5 mil km. Eis o nosso principal problema: as cidades são voltadas para o transporte motorizado individual (túneis, viadutos, alargamento de avenidas), com pouca atenção para o transporte público e quase nada para a bicicleta.
Em Fortaleza, temos ciclovias sem qualquer integração, pavimentações ruins, quase sem sinalização e cheias de obstáculos. O resultado é que, muitas vezes, os ciclistas (entre 150 mil e 200 mil, aproximadamente, que se deslocam para o trabalho) circulam fora delas.
O mais grave é a falta de uma política de educação para o motorista, pois, enquanto o Código de Trânsito responsabiliza os condutores de veículos maiores pela segurança dos menores, inclusas as bicicletas, o que vemos é exatamente o inverso. Como ciclista, posso observar e sentir que somos “invisíveis” – assim como os pedestres – aos olhos de quem dirige ônibus, carros e motos. Há, pois, uma falta completa de segurança para se circular de bicicletas em Fortaleza: calcula-se que, a cada 25 horas, um ciclista é atropelado e morto.
Em agosto do ano passado, a Câmara Municipal aprovou, por unanimidade, um projeto de lei de minha autoria criando o Sistema Cicloviário de Fortaleza, que, desde outubro, espera a publicação no Diário Oficial. Enquanto isso, a cidade engarrafa, o sistema de transporte público, ainda que barato, é cada vez mais precário e o governo propõe um Veículo Leve sobre Trilhos em um percurso que não atende às principais vias estranguladas da cidade.
Sei que não é fácil mudar uma cultura incentivada pela poderosa indústria automobilística, mas, bem que poderíamos ter mais espaço para quem quer e/ou precisa se transportar de bicicleta. Só a experiência de pedalar já muda nossa relação com o tempo e o espaço. Com certeza, ainda que não abandonemos o carro individual, nos tornamos melhores motoristas quando também somos ciclistas.
João Alfredo Telles Melo, advogado, professor e vereador licenciado pelo PSOL em Fortaleza.
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