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segunda-feira, 25 de abril de 2011

PARA OS AMIGOS DA "MESA DA COCA" EM PENTECOSTE - REFLITAM SOBRE ESSA "OPINIÃO"

Partido único de oposição

Fonte: O POVO Online/OPOVO/Opinião


Confinar as oposições em apenas um partido produziria um arranjo artificial

A união das oposições em um só partido não convém nem é oportuna. Muitos são os motivos que arrimam este entendimento. Começando pela sociedade e pelo nosso tempo, não devemos esquecer: a contemporaneidade é caracterizada pela pluralidade. A sociedade brasileira sempre é marcadamente diversificada, fato que sublinha a heterogeneidade do nosso tempo.


Confinar as oposições – tão heterogêneas quanto a sociedade – em apenas um partido produziria um arranjo artificial. É ilusório pensar que as oposições estariam unidas e fortalecidas se agrupadas em um só partido. As insatisfações que adviriam da convivência entre forças distintas e até rivais, poderiam facilitar a cooptação de líderes oposicionistas pelo poder. A convivência forçada, no mesmo partido, produziria poderosas forças centrífugas, ao modo das sublegendas, no passado recente.

Falta democracia interna aos nossos partidos, circunstância que dificulta a convivência de opiniões, interesses e paixões divergentes. Só um ato de força reuniria expressões políticas tão díspares em um mesmo quadro partidário. Tais atos não contribuem para aperfeiçoamento político no Brasil.

As forças centrífugas fortaleceriam o argumento da necessidade de mais disciplina partidária, favorecendo o “caciquismo” que já acomete as nossas organizações partidárias. Sem a caneta e o diário oficial, restaria ao partido de oposição o autoritarismo para conter as forças centrífugas.


É óbvio que se tal união se desse pela convergência de opiniões, paixões e interesses as oposições se fortaleceriam, adquirindo lastro para o nobre exercício de fiscalizar o poder e oferecer alternativas programáticas. Difícil é amarrar o guizo no pescoço do gato.


A busca de tal unidade talvez resulte do temor da “mexicanização” da política brasileira. Governadores, prefeitos e presidentes revelam-se favoritos nos pleitos. Não importa que falte aos eleitores estradas, aeroportos, portos, escolas públicas de qualidade, serviços de saúde, segurança pública, limpeza pública, saneamento, probidade administrativa, nem que estejamos regredindo à condição de exportadores de produtos primários, que não estejamos minimamente preparados para desastres naturais, nem que ocorram apagões e o que mais houver.

A esmagadora superioridade das votações com que se consagram as chapas oficiais de fato inspira as dúvidas e os temores expressos na palavra “mexicanização”. A emenda, porém, sairia pior do que o soneto.

A unidade das oposições em um partido não se confunde com unificação apartidária. As coligações oferecem o ensejo de união das oposições e não são tão sufocantes quanto a opção partidária única. As barganhas subalternas e alianças espúrias que povoam as coligações não são estranhas aos partidos artificialmente unificados.


Rui Martinho Rodrigues
Historiador e professor universitário

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