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segunda-feira, 13 de junho de 2011

Greve: sobra dissimulação

Com uma desfaçatez assustadora, vereadores e deputados estão servindo aos dois senhores
13.06.2011| 01:30
 

Prestes a completar a marca dos 50 dias, a greve dos professores do Município de Fortaleza é o exemplo mais acabado de nossa pobreza política. Vejamos. Como todo movimento do tipo, deveria colocar em lados opostos Prefeitura e sindicatos. É assim em qualquer parte do mundo. Isso é tão velho quanto a própria política. A partir daí, estabelece-se os canais de diálogo e negociação. Deixando-se, sempre, muito claro, quem é quem. Não é o que acontece por aqui. Com uma desfaçatez assustadora, vereadores e deputados (estaduais e federais) estão servindo aos dois senhores. São governistas até o talo, mas adoram fazer média com as entidades representativas. Alguns, de tão dissimulados e empulhadores, desafiam qualquer um a identificar de que lado estão. Não deveria ser assim. E apostem: vamos ter alguns deles pedindo voto no ano que vem, em nome da educação, com a mais lavada das caras. Já foi dito que a centro-esquerda tem dificuldade em se assumir como governo. Não é isso não. É falta de fibra mesmo.

QUEBRA DE ACORDO, MUITA PRESSÃO E DESGASTE
Se houvesse mais hombridade do que covardia desses senhores (e senhoras também) parlamentares para dizerem de que lado estão nessa greve – se dos sindicatos ou da Prefeitura -, a população teria uma boa chance de conhecer os representantes que tem. Isso, independentemente do mérito da greve em si. Até porque, esse movimento já fez da verdade sua segunda grande vítima. A primeira é o aluno, que paga um preço incalculável pela paralisação. Agora, vem a público a informação de que a Prefeitura teria quebrado um acordo celebrado com a categoria. Pelo acertado, entre as lideranças do Governo na Câmara Municipal e a ala opositora, o Município não pediria a ilegalidade da greve, pelo que a oposição não entraria na Justiça questionando o descumprimento do regimento interno na sessão da última quinta-feira, que aprovou o reajuste formatado pela Prefeitura.

Duas observações sobre o pedido de ilegalidade da greve: mostra a pressão sobre a gestão Luizianne Lins (PT), que num ato de quase desespero passou por cima do acordo. Ponto dois: é inevitável que o desgaste da administração nesse assunto adentre o ano que vem, eleitoral. Basta lembrar que o período letivo de 2011 sequer começou. E, salvo uma gambiarra das grandes, não terminará este ano.

MERAS ALIANÇAS ELEITORAIS
Muito revelador o balanço que a cobertura do O POVO fez neste domingo sobre o alinhamento entre os palácios do Bispo, Abolição e Planalto. Ao destacar os pífios resultados para o Estado e a Capital até aqui, a repórter Lucinthya Gomes deixou nas entrelinhas uma importante constatação: desde 2003, com a chegada de Lula ao poder, houve no Ceará mais alianças eleitorais do que políticas. Tudo baseado nas circunstâncias e conveniências da hora. As eleições e reeleições que se seguiram, tanto as de Luizianne quanto as do governador Cid Gomes, mostram isso, claramente. Em 2006, foi a força de Lula que fez os ex-tucanos Ferreira Gomes acoplarem-se ao PSB. Foi uma habilidosa maneira de manterem-se com acesso livre ao Governo Federal, a exemplo do que acontecia à época de Fernando Henrique Cardoso. O problema, diriam, foi do poder, que mudou de lado. Pode-se dizer que o staff do PT também soube tirar proveito da situação. Desde então, o partido, embora à sombra do PSB de Cid, aumentou o número de prefeituras e assentos nos parlamentos e “profissionalizou” muitos companheiros.

EFEITO COLATERAL E RETÓRICA
O efeito colateral da grande aliança é que no gigantesco consórcio, puxado pelo PSB-PT local e nacional, há muito aparelhamento e loteamento de espaços, com pouca visão do conjunto. O resultado está aí: com DNA ideológico quase inexistente entre eles, a vida administrativa segue aos solavancos. Vide os grandes projetos tocados pela Prefeitura e Governo do Estado, frutos mais do personalismo do que de planejamento. Outro detalhe do alinhamento: nas décadas dos anos 80 e 90, quando o PT fazia oposição a tudo e a todos, a retorica corrente era a de que a Prefeitura de Fortaleza e o Governo do Estado deveriam ficar em mãos políticas diferentes e concorrentes. A tese dizia que a disputa entre os entes, para mostrar quem faria mais pela Capital, terminaria por beneficiar o fortalezense. Pelo visto, era só retórica mesmo


ESG.

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