Polícia diz que peça achada no prédio pode esclarecer explosão no Rio
Também foram recolhidos quatro HDs dos escombros na Praça Tiradentes.
Delegado pede catalogação do que for encontrado no subsolo do prédio.
Funcionários da empresa contratada pela prefeitura para fazer a remoção dos escombros do prédio onde funcionava o restaurante Filé Carioca, que explodiu na última quinta-feira (13), na Praça Tiradentes, no Centro do Rio, encontraram neste sábado (15), no subsolo do edifício, o pedaço de uma mangueira atada a uma válvula que pertenceria a um cilindro de gás. De acordo com o delegado Antônio Bonfim, da 5ª DP (Mem de Sá), o material pode ajudar a esclarecer o vazamento, já que a mangueira estava envolvida em fita isolante.
“Isso pode ser um indício do vazamento de gás. Essa mangueira se encaixa exatamente no pedaço de cilindro que foi encontrado a cerca de 30 metros do restaurante, no dia da explosão, segundo o perito que acompanha a remoção. Como o pedaço da mangueira está envolvido em fita isolante, isso fortalece a tese do vazamento de gás”, disse o delegado.
Além deste material, os operários também encontraram quatro discos rígidos (HDs) de computdores nos escombros, no subsolo do prédio. Mas segundo Bonfim, como havia uma lan house nas imediações, o material será encaminhado para análise para saber se algum deles era do restaurante e contém as imagens do circuito interno do estabelecimento.
“Todo o material encontrado no prédio está sendo encaminhado à perícia. Fiz questão de ir ao local para orientar o pessoal a catalogar tudo o que for encontrado no subsolo, com local e posição, para sabermos se o material é do restaurante ou de outra loja do prédio”, acrescentou o delegado.
Ainda nos escombros foram encontrados os seis cilindros de gás. Um deles estava vazando. Eles só serão removidos neste domingo (16), depois de serem analisados por peritos.
Proprietário vai depor na segunda-feira
O dono do restaurante Filé Carioca só vai prestar depoimento na próxima segunda-feira (17), na 5ª DP (Men de Sá), conforme informou neste sábado (15) o delegado Bonfim. Segundo ele, surgiram novos elementos que precisam ser explicados, como a existência de gravações de imagens do circuito interno do restaurante e de recarga e manutenção do sistema de gás do recinto.
De acordo com o delegado, as imagens estão no disco rígido do computador, sob os escombros do prédio. Elas poderão ajudar a entender o que aconteceu no restaurante. Ainda segundo Bonfim, o dono do restaurante conseguia ver de casa o que acontecia no estabelecimento, mas não tinha como gravar as imagens de lá.
Costelas quebradas
O advogado do dono do restaurante, Bruno Castro, esteve na delegacia na tarde de sábado e informou que seu cliente ainda está muito abalado, sendo acompanhado por um médico. O irmão do proprietário, que era gerente do restaurante, teve fratura de costelas e também deverá prestar depoimento na próxima segunda.
"Meu cliente ainda está debilitado, mas virá à delegacia na segunda. O gerente, que está com as costelas quebradas, está com dificuldades para se locomover, mas faremos o possível para que ele também venha depor. Ele contou que, ao chegar ao restaurante, encontrou a porta aberta e luzes apagadas, que não havia ninguém lá dentro por causa do cheiro de gás, e que ao se abaixar para pegar um banco para ligar a chave geral do restaurante, tudo explodiu. No momento da explosão, ele estava abaixado atrás do balcão. As imagens ficam gravadas no computador, que fica no restaurante. A empresa do circuito interno não grava essas imagens", disse o advogado.
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Castro contou ainda que, segundo seus clientes, o restaurante estava regularizado, já que tinha alvará da prefeitura para funcionar, e que o estabelecimento não foi fiscalizado pelo Corpo de Bombeiros porque não fazia parte do condomínio do edifício Riqueza.
Ainda segundo o advogado, o restaurante tinha seis cilindros de gás que ficavam no subsolo, numa área arejada. E que dois dias antes da explosão, a empresa responsável pela recarga e manutenção desse sistema de gás tinha ido ao local. Ele explicou que os cilindros não eram trocados, mas sim recarregados por um caminhão.
O delegado disse que vai enviar ofício à empresa responsável pela manuteção dos cilindros de gás para saber que tipo de serviço foi realizado no restaurante na terça (11), dois dias antes da explosão.
Enterro de três vítimas
Sob clima de muita emoção e revolta, as três vítimas da explosão foram enterradas na tarde desta sexta-feira (14).
Parentes e amigos próximos participaram do enterro do chefe de cozinha Severino Antônio Tavares, de 45 anos, no Cemitério do Murundu, em Realengo, na Zona Oeste. Ele foi considerado um herói pela família.
Funcionários do restaurante contaram que ao sentir forte cheiro de gás, ele impediu que outros funcionários entrassem na loja, chegou a sair, mas voltou à loja para tentar conter o vazamento.
O corpo de Josimar dos Santos Barros, de 22 anos, sushiman da lanchonete, foi enterrado no Cemitério de Jacarepaguá, no Pechinha, na Zona Oeste. Aos gritos de "Justiça!", parentes e amigos deixaram o cemitério. Flores brancas e camisas do Flamengo, time de Josimar, foram colocadas sobre o caixão. Os amigos do jovem vestiam camisetas com a foto de Josimar e a frase "Valeu a pena". No verso da roupa estava estampado a letra da música "Pescador de ilusões", do grupo O Rappa.
No início da tarde, o sepultamento do jovem Matheus Macedo, de 19 anos, no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, na Zona Oeste do Rio, transcorreu em clima de muita revolta e foi acompanhado por cerca de 200 pessoas, segundo funcionários do cemitério.
Ele trabalhava em um posto bancário dentro do quartel central dos bombeiros, informaram parentes. Em um discurso emocionado, chorando muito, o pai de Matheus, Carlos Henrique Macedo de Andrade exclamou: "Rio Antigo, todo mundo fala do Rio Antigo. Mas o Rio Antigo está caindo aos pedaços. Só se fala em Copa do Mundo. Agora está aí, mais uma vítima do descaso das autoridades".
Câmera registra explosão
Uma câmera de monitoramento da Prefeitura do Rio registrou o exato momento da explosão. Nas imagens é possível ver algumas pessoas paradas do lado de fora do prédio e um pedestre, que passa em frente ao local, no momento em que ocorre a explosão.
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