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quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Às vezes, uma barba é mais que uma barba


Já tive barba cerrada de jagunço da novela das seis. Hoje me resta um desenho de penugens debaixo do queixo. Mas sei bem o que o Lula deve estar sentindo ao sacrificar o adereço facial que lhe acompanhou a trajetória e lhe constituiu a mística.
Lá está ele, na foto que o R7 publicou antes de todo mundo, sorridente, contudo, entregando seus pêlos aos doces cuidados de dona Marisa. Lula sorri, mas eu sei quanto aquilo dói.
Não é nem pela sombra de uma doença cruel, que ele começa a combater com bravura. Mas é que, revirando do avesso o dr. Freud, às vezes uma barba é mais que uma barba.
É vestimenta, pode ser disfarce. É uma moldura, pressupondo vaidade. Ou, ao contrário, é uma declaração de rebeldia, pretextando indiferença às convenções.
Muito do vigor combativo do Lula do passado se exprimia simbolicamente nos fios revoltos de sua barba. Ao se aproximar do poder, Lula pacificou-os, numa arquitetura facial que reiterava o candidato à concórdia e à condialidade, como se fosse um político da República Velha.
Presidente, Lula viu o grisalho amansar ainda mais sua persona pública. No exterior, passaram a tratá-lo como estadista. Em vez de atrapalhar, a barba ajudou.
Ao se olhar hoje no espelho, Lula há de estranhar. É difícil reencontrar-se com uma criatura que de repente é você, e também não é.
Repito: não é fácil abandonar a companheira de tantas lutas. Mas a batalha de agora consola o sacrifício


fonte: Nirlando Ribeiro

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