A Farmácia Oswaldo Cruz tem ordem de despejo para sair do prédio onde está há 77 anos, na Praça do Ferreira. Lei do Inquilinato permite a ação
Farmácia Oswaldo Cruz funciona há 77 anos no prédio na Praça do Ferreira (FOTO ANDRÉ SALGADO)
Andreh Jonathas
andreh@opovo.com.br
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A proprietária do estabelecimento, Fátima Ciarlini, contou que recebeu uma ligação da proprietária do imóvel, há três meses, na tentativa de negociar a renovação do contrato de locação. Não houve acordo e, ontem, sob o respaldo da Lei do Inquilinato (8.245/91), foi pedida a devolução do prédio.
“Ela queria duas vezes o valor do aluguel. Queria um valor que veio da cabeça dela. No contrato, teria o reajuste normal no índice INCC (Índice Nacional da Construção Civil), e, por fora, queria um valor a mais”, disse Airton Caracas, diretor administrativo da Farmácia Oswaldo Cruz.
O estabelecimento contratou um advogado para evitar o despejo, já que, segundo informou, o prédio está em processo de tombamento por meio da Prefeitura de Fortaleza.
O POVO entrou em contato com a Fiducial Imobiliária, responsável pela administração do prédio. A empresa preferiu não se pronunciar sobre o assunto.
Segundo O POVO apurou, o contrato de locação já está vencido e a família proprietária do imóvel, que reside no Rio de Janeiro, tem interesse em alugá-lo por um valor mais alto ou vender a propriedade.
Valor histórico
O prédio é particular e a ordem de despejo para a Oswaldo Cruz é legal. Mas o assunto se torna de interesse público em função do valor histórico do estabelecimento, explica Armando Cavalcante, diretor-tesoureiro Conselho Federal de Corretores de Imóveis (Cofeci).“Pode pedir o prédio e tem direito a agir dessa maneira. A lei favorece. Mas tem o lado humano e histórico da cidade. A farmácia já é uma referencia, uma tradição, e até ponto de atração turística da cidade. Teve importância na história da cidade”, comentou Cavalcante. Para ele, o juiz vai definir em função da legislação. No entanto, trata-se de um caso que deve envolver toda a população.
“A cidade pode fazer uma desapropriação e manter a farmácia funcionando. Isso é uma prerrogativa do Município e do Estado”, sugere.
O quê
ENTENDA A NOTÍCIA
A lei é fria. A cultura e a história, não. A concretização do despejo da Farmácia Oswaldo Cruz significa manter a fama de não valorizar o passado, significa enterrar 77 anos de serviços prestados.
Saiba mais
Modelo de negócios familiar
O primeiro proprietário da Farmácia Oswaldo Cruz foi Hotêncio Mota. Cerca de 10 anos depois, vendeu o estabelecimento ao então empregado Edgar Rodrigues de Paula, falecido há três anos.A farmácia tem 32 funcionários e possui uma filial no município de Caucaia, aberta há um ano e seis meses.
O pedido de tombamento do prédio da Oswaldo Cruz foi feito pelo jornalista e historiador Nirez, dia 13 de agosto de 2011.
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