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segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O espiritismo em debate

Quanto a suas vidas passadas, de nada se recordam, como é óbvio, e seria até um consolo se tivessem consciência de estarem purgando pecados de outras encarnações

Francimar de Oliveira


Os líderes espíritas e os intelectuais adeptos desta doutrina sempre dão ênfase ao caráter quase científico do reencarnacionismo. Sendo o ciclo das reencarnações, a seu modo de ver, uma verdade científica, não sobra espaço para os dogmas, ao contrário do que ocorre nas religiões tradicionais, aí incluídas o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, todas elas com suas estruturas doutrinárias assentadas em postulados dogmáticos.


Quando se lhes mostra a contradição entre a doutrina reencarnacionista e o aumento constante da população no planeta Terra, sendo os 7 bilhões de habitantes, neste final de 2011, número totalmente incompatível com os 2 bilhões que aqui viviam no ano de 1925 (Almanaque Abril de 2004), respondem-nos com um argumento aparentemente poderoso – o de que a Terra é um planeta que acolhe os espíritos em processo de evolução, e tais seres humanos procedem, muitas vezes, de planetas pertencentes a outras galáxias. Parece uma resposta contundente, e a primeira reação do interlocutor é dar-se por convencido. Mas quando este se põe a meditar, descobre um ponto fraco naquela argumentação. E eis no que consiste o engodo: em aceitar como verdade científica a hipótese de existência de vida em planetas de outras estrelas ou galáxias. A ciência nunca comprovou tal hipótese. A doutrina kardecista converte portanto uma possibilidade em fato concreto. E eis como surpreendemos o espiritismo patinando no pântano dogmático, como qualquer outra religião.


Mas as doutrinas contestáveis do espiritismo não param aí. Vejamos o fenômeno da psicografia. A primeira indagação que nos ocorre tem por alvo o principal representante desta corrente religiosa no Brasil – Chico Xavier. Por que os conceituadíssimos poetas e prosadores que supostamente ditaram, do além, dezenas de poemas e crônicas ao médium de Pedro Leopoldo, MG, nunca produziram literatura de nível já não digo superior, mas pelo menos da mesma qualidade de quando encarnados aqui neste nosso planeta?


Retornando ao tema da reencarnação, não posso calar este simples raciocínio: se os intelectuais kardecistas afirmam que o espírito de Jesus de Nazaré não experimentou reencarnações sucessivas, mas foi criado por Deus com a missão específica de trazer uma boa-nova aos seres humanos da Terra, por qual motivo não admitir o fenômeno de uma só encarnação com mais frequência, aceitando que muitos de nós que deambulamos na superfície terrestre somos seres espirituais de primeira viagem? Por que insistem nessa ideia fixa do ciclo indefinido de reencarnações, parecendo que gostam tanto da paisagem terrestre, a ponto de não quererem despedir-se nunca desta vida?


E, no entanto, as reencarnações contínuas, apresentadas como o único processo de aperfeiçoamento espiritual, estão longe de responderem a muitos questionamentos. Milhões de crianças da África subsaariana, condenadas a morrer de fome nos próximos anos (dados da ONU, por intermédio de suas agências especializadas), experimentarão dor e sofrimento extremos, até morrerem sem sequer alcançarem a puberdade. Não sabendo nem ao menos distinguir entre o acima e o abaixo, o certo e o errado, de que maneira semelhante sofrimento contribuiria para o aperfeiçoamento espiritual destas pobres crianças? Diante de si, têm apenas esta realidade: sofrimento e mais sofrimento, sem que lhes seja permitido conhecer as razões de tanta dor. Sim, não lhes resta o consolo de saber que estão resgatando seus pecados de vidas anteriores, porque as correntes religiosas imperantes na África (islamismo, cristianismo e ritos tribais) desconhecem tal ensinamento, e semelhantes cogitações não lhes foram transmitidas por seus parentes.


Quanto a suas vidas passadas, de nada se recordam, como é óbvio, e seria até um consolo se tivessem consciência de estarem purgando pecados de outras encarnações, mas os ideólogos espíritas afirmam, categoricamente, que Deus apaga de sua memória, no momento da reencarnação, qualquer lembrança de vidas anteriores. Tudo isto, dizem eles, para evitar o sofrimento maior, que ocorreria se os pecados cometidos permanecessem em suas lembranças

Fonte: O Povo

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