Mau exemplo
Tem um aspecto surreal, e ilustra bem a onda de temor que tomou conta da cidade de Fortaleza nesta semana, a declaração de um inspetor de polícia de que até a delegacia “estava fechada por receio da segurança”.
Com efeito, não se podem culpar lojas, creches, escolas, postos de saúde, atrações turísticas e o Tribunal de Justiça por ter cerrado as portas na esteira da irresponsável paralisação dos policiais militares e bombeiros cearenses, que, menos mal, chegou ao fim.
É estarrecedor que a população da quinta maior cidade do país tenha sido forçada a um toque de recolher informal em plena luz do dia, aterrorizada por boatos sobre arrastões e assassinatos.
A situação em Fortaleza evidencia os graves problemas acarretados por esse tipo de paralisação, chegando a extremos em episódios como as greves de policiais militares que levaram caos e mortes a Salvador no início dos anos 2000.
Dessa vez no Ceará, a mobilização de cerca de mil militares e 200 homens da Força Nacional de Segurança não foi suficiente para transmitir sensação de segurança à capital do Estado, que só agora começa a voltar à normalidade.
Com ou sem esquemas alternativos, é inadmissível uma paralisação de PMs. Por justas que possam ser as reivindicações salariais, militares são proibidos pela Constituição, por motivos óbvios, de praticar greve. Precisam, portanto, buscar outros meios de defender seus interesses corporativos.
Some-se a isso o desrespeito à decisão da Justiça, que havia considerado a greve ilegal e determinado o retorno imediato ao trabalho.
Nesse cenário, a promessa de anistia aos envolvidos, no acordo que encerrou a greve, é um equívoco. O governo, que cedeu na elevação do piso salarial de R$ 1.606 para R$ 2.634 (mais que os atuais R$ 2.366 de São Paulo ou R$ 1.847 de Alagoas), tinha o dever de punir ao menos os líderes do movimento, para deixar claro o quão intolerável é esse tipo de conduta.
Tanto foi inoportuna a decisão que os policiais civis animaram-se a anunciar, na sequência, uma paralisação total até que suas reivindicações sejam atendidas. A leniência do governador Cid Gomes acabou, portanto, por prolongar o clima de insubordinação.
As forças de segurança merecem salários dignos e boas condições de trabalho, mas não podem, em busca de seus direitos, transformar os cidadãos em reféns. Pela natureza essencial e particular de sua função, greves de policiais, civis ou militares, são inaceitáveis.
Fonte: SG Notícias
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