janela descendo

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Sem Catanho, negociação pode zerar

O fato de ser amigo, homem de confiança da prefeita e de conhecer como ninguém os meandros da administração municipal não são os únicos trunfos de Waldemir Catanho para ser candidato a prefeito de Fortaleza. Como toda a mediação política municipal passou por ele, o secretário construiu laços com os partidos aliados e os vereadores da base de apoio. Todas as costuras políticas feitas nos últimos meses – embora sem método, de forma um tanto improvisada – tiveram o homem da articulação política da Prefeitura como opção principal. A hipótese de candidatura de Elmano de Freitas ganhou impulso nos últimos dias, mas ainda precisa ser submetida ao teste das negociações políticas. Com alguma resistência do deputado federal Artur Bruno, a preferência por Catanho já vinha sendo deglutida há algum tempo dentro do partido. Caminhava para haver consenso em torno dele. Com os aliados, já havia bom caminho trilhado. No caso de ele não topar, os entendimentos retornam quase à estaca zero. Os acertos já quase firmados precisarão ser rediscutidos. Pré-candidatos que abririam mão para Catanho desejarão retomar o assunto na hipótese de o escolhido ser outro. Para complicar, o articulador político de Luizianne não tem dado as esperadas sinalizações de que deseja mesmo concorrer. Na leitura de alguns aliados, a postura titubeante neste momento-chave demonstra que ele estaria mais inclinado a não entrar na disputa.

O TEMPO E A EXPECTATIVA DE PODER
Parecem favas contadas que o candidato do PT não será mesmo oficializado nesta semana. Do Réveillon para cá, praticamente nada caminhou. Como o prazo pré-fixado era 15 de janeiro, alguma conversa é aguardada ainda para esta semana. Mas é pouquíssimo provável que seja conclusiva. O encontro que o PT promoveria sábado já foi adiado. Alguns petistas – Luizianne Lins puxa a fila – estão pouco preocupados se a decisão será tomada agora ou mais adiante. Na hipótese de prévias, a definição talvez só ocorra em maio. Outros filiados, todavia, estão apreensivos com a possibilidade de a decisão não sair em janeiro. Existe o temor de que o partido perca o controle do processo. Quanto mais demorar a escolha, maiores as chances de debandada de partidos hoje aliados. A ausência de sinalização clara da direção a ser seguida pode ser compreendida como falta de rumo e gerar insegurança. Um complicador da eventual desistência de Catanho: a expectativa de poder é o combustível fundamental da política. À medida que a estratégia da Prefeitura para a sucessão se mostrar incerta, e com a possibilidade de naufrágio do “plano A”, os aliados podem perceber fragilidade na empreitada. A caneta governamental é arma poderosa para evitar a debandada, mas o risco é maior quanto mais titubeantes se mostrarem os movimentos governistas.
LÁ E CÁ
Diante das denúncias contra o titular da pasta da Integração Nacional, Fernando Bezerra, a comissão que representa o Congresso Nacional durante o recesso parlamentar se reúne amanhã para ouvir o ministro. Como no Ceará o ano começou tranquilo, a comissão de recesso da Assembleia Legislativa permanece em seu descanso.

NOS CONTRASTES, OS SINTOMAS DO NOSSO ATRASO
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou ontem estudo sobre a presença da máquina pública no Brasil. Os números são desconcertantes. O Ceará aparece na quinta colocação entre os estados que mais recebem benefícios do Bolsa Família, com 1,07 milhão de favorecidos. Fica atrás de Pernambuco, Minas Gerais, São Paulo e Bahia. Sintoma claro de nossa miséria, mas infelizmente não é aí que mora o problema. O lado triste é que o Ceará tem o quarto menor número de médicos que atendem pelo SUS em relação à população. Com 2,2 profissionais para cada mil habitantes, aparece empatado com o Tocantins e só fica na frente de Rondônia, Pará e Maranhão. A proporção de estabelecimentos ambulatoriais do SUS por habitante é a sétima menor entre as 27 unidades da federação. A quantidade de leitos para internação pelo SUS, em relação ao número de habitantes, é a nona menor do País. Já no percentual de demitidos por justa causa protegidos pelo seguro-desemprego, o Ceará vai muito bem: é o quarto do País. Em conjunto, os números expõem triste cenário. A presença estatal em território cearense é boa ao atacar aspectos emergenciais e assistenciais, mas terrível nas garantias estruturais. Para o longo prazo, essa ação conjunta tende a estimular o clientelismo e manter a precariedade das condições de vida.

UMA BOA NOTÍCIA E MUITOS DESAFIOS
O estudo do Ipea confirma o que já se sabia sobre os desafios educacionais do Ceará. A frequência ao ensino fundamental da população até 14 anos é a segunda maior do Brasil. Esse problema parece solucionado, mas resta o desafio não menos complexo de garantir a qualidade a esse nível educacional. Já a frequência ao ensino médio é a décima pior do País. O resultado é ruim, mas não tanto quanto os piores indicadores cearenses. Mas chama atenção a diferença de um nível de ensino para outro. Sinal do quão negligenciada foi a educação média. E o pior é que, sem ter havido universalização - longe disso -, a qualidade é igualmente precária.

Érico Firmo
ericofirmo@opovo.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário

pág