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domingo, 12 de fevereiro de 2012

Computador traz benefícios à saúde mental dos idosos

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Antônio e Francisca Feitosa descobriram o mundo da internet
FABIANE DE PAULA
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O militar reformado Alberto Sampaio, 76 anos, passa horas navegando nas redes sociais, conversando com os netos, filhos e irmãos e sobrinhos
Pesquisas comprovam que os mais resistentes às mudanças têm mais tendência a adquirir Mal de Alzheimer
"Vó, cadê vocês? Quando a senhora vem por aqui?", pergunta o neto Pedro que mora em Curitiba, Paraná, para a professora aposentada Francisca Maria Feitosa, 77 anos, que vive em Fortaleza. Muito feliz ela responde: "Estamos bem. Uma bênção com um beijo". A conversa, que até setembro do ano passado só poderia ser feita por telefone, ficou mais fácil para eles.

Isso porque, hoje, por meio do site de relacionamento Facebook, ela pode conversar com Pedro a qualquer momento. Não só com ele, mas com a neta Déborah, que mora em Portugal, e com o filho mais novo, que está em Foz do Iguaçu.

As vantagens da internet e do computador não param por aí. Francisca relata que entra em sites de notícias diariamente e está até escrevendo um livro de memórias contando sua vida desde a infância até o período atual. Isso só foi possível porque ela e esposo, Antônio Alves Feitosa, 81 anos, fizeram um curso de informática no ano passado e decidiram comprar um computador. Daí por diante, muita coisa mudou na vida do casal.

O marido, que também está escrevendo um livro, afirma que chega a passar cerca de cinco horas por dia em frente à máquina. "A tecnologia está tão avançada que temos que acompanhar, do contrário, pararíamos no tempo. Muita coisa mudou na minha vida depois que descobri a internet, até a memória está melhor, tudo é mais fácil e mais rápido para nós".

O geriatra João Macedo, professor da faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), afirma que o uso do computador e da internet aciona o circuito cerebral dos idosos, podendo até resgatar habilidades adormecidas. O exercício também pode inibir algumas doenças como o Mal de Alzheimer, além de prevenir a depressão e ajudar no resgate da células neurais e na integração com a sociedade moderna.

João Macedo explica que, com o envelhecimento do corpo, a morte dos neurônios é inevitável, mas o uso continuo da atividade cerebral pode resgatar essas funções, e a informática é uma excelente ferramenta para que isso aconteça. "No mundo moderno, boa parte dos conhecimentos são veiculados no meio virtual e grande parte das interações sociais também. O idoso que embarca nessas mudança tem melhor auto estima".

Mudanças
Porém, João Macedo acredita que há ainda resistência por parte de alguns idosos que acabam deslocados do mundo. "A pessoa fica presa ao que aprendeu e isso prejudica. Pesquisas comprovam que os mais rígidos e apegados às origens têm mais tendência a adquirir o Mal de Alzheimer, os que oferecem mais abertura são mais saudáveis", informa.

Para ele, é interessante o desenvolvimento de uma política pública de saúde voltada para a informática. "O idoso que está aberto a novos conhecimentos tem um envelhecimento bem sucedido, ou seja, sem incapacidade", explica. Por outro lado, o geriatra alerta que o uso exagerado da internet pode também afetar as relações pessoais, além de atrapalhar algumas tarefas, como a caminhada, ou visita em casas de parentes e amigos.

Mas, segundo ele, essa atitude pode acontecer em qualquer faixa etária. No caso dos idosos, eles devem ser orientados e monitorados pelos filhos e netos "Tenho pacientes que deixam de sair de casa e só querem passar o dia no computador, nesses casos é prejudicial", analisa.

Redes sociais auxiliam nos reencontros com parentes
Quem acha que Facebook, Twitter, Orkut e tantas outras redes de relacionamento são apenas para jovens deve repensar essa opinião. Os muitos idosos que já descobriram as redes sociais vêem nelas a possibilidade de reencontrar amigos e parentes e até de sentir-se vivos e atentados na modernidade. O capitão reformado Alberto Sampaio, 76, diz que, além de conversar com netos e filhos através das redes sociais, diariamente descobre antigos amigos e até parentes que não via há mais de 20 anos.

"Na semana passada, adicionei no Facebook uma sobrinha que não via desde que ela era criança. Hoje, sei que ela está morando no Maranhão, e foi através do meu sobrenome que ela me encontrou. Isso me deixa muito feliz", conta. Além disso, ele conta que diariamente reencontra amigos da época que estava trabalhando e alguns da infância. Alberto, que tem 91 amigos no Facebook, revela que foi devido ao incentivo das filhas que ele conheceu a internet e confessa que, atualmente, ela é uma companheira. O capitão reformado ressalta que a comunicação via rede é bem melhor do que por telefone, pois, além de ser mais rápida, é possível ver pessoas queridas pela webcam e conversar com elas como se estivessem ao seu lado.

"Sempre bato papo com o meu neto que mora no Rio Grande do Sul e minha irmã que vive em Terezina, Piauí. Tenho amigos em quase todo o Brasil, tudo isso por causa da internet", diz.

Maturidade X inovação
"O computador é uma barreira para eles, porém, depois que começam, não querem largar nunca mais", afirma a coordenadora do curso "O Viva" da Universidade de Gerações, que funciona em uma instituição privada em Fortaleza, Tânia Sancho. Ela conta que as aulas de informática do curso funcionam desde 1998 e começaram timidamente em uma residência com três computadores, hoje em salas amplas com 50 máquinas. Cada turma funciona com 14 alunos, no mínimo duas vezes por semana.

Conforme Tânia, além de aprender conhecimentos básicos de Windows, Exel, Photoshop e internet, a finalidade do curso é desenvolver um crescimento individual, mostrar para eles que são capazes e incentivar as relações pessoais. "Diante da ausência dos filhos e netos, o computador se tornou uma excelente companhia para as pessoas maduras. Eles conhecem o mundo e se socializam com mais facilidade, afastando a solidão", diz.

OPINIÃO DO ESPECIALISTA

A benéfica da informática
Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez)
Pesquisador

Os meios de comunicação vão, ao longo do tempos, passando por mutações muito interessantes, sendo imprevisível a que ponto poderão chegar no futuro. Escrevia-se em papiros que eram levados à pé por mensageiros que passavam dias para chegar no destino. Depois, chegaram veículos que facilitaram esse envio, como animais, pombos, navios, veículos, aviões, telégrafo, cabos submarinos, telefones, máquinas de escrever, telex, radiofoto, sempre numa progressão, podemos dizer, geométrica até chegar aos dias de hoje, quando, através do éter, pode-se enviar mensagens, escritos, fotografias, sons, enfim, numa revolução tecnológica nunca vista. Hoje em dia, é inconcebível que alguém, mesmo idoso, entregue às tradições e resistentes às transformações, não faça uso de alguma tecnologia. A mensagem pelo telefone, o celular, o computador, tudo está intrinsecamente ligado a todos os seres humanos, queiramos ou não.

Aqueles que gastavam grande parte de seu tempo com as máquinas de escrever, usando a borracha para apagar, o recorte para corrigir textos, hoje, têm à mão a facilidade de redigir de uma maneira facilitada. Ganhamos com isso tempo e dinheiro, já que uma coisa é ligada à outra. Hoje, você já pode trabalhar em casa enviando seu produto para a sede, seja loja, indústria, jornal, revista, repartição pública, ou outro qualquer fim, com a comodidade e certeza da chegada do que fez em tempo recorde. A comunicação entre eu e meus amigos foi melhorada em muito, pois facilmente levamos a notícia de qualquer acontecimento a muitas pessoas de uma só vez, através de e-mails, onde podemos anexar fotografias, música e até filmes.

KARLA CAMILA
REPÓRTER/DN

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