Se todo escândalo no Brasil tende a terminar em pizza, Renata Cavas deve estar sonhando com uma tamanho família e borda de catupiry. Nada é básico para a gerente da Rufolo Serviços Técnicos e Construções. Roupas extravagantes e ar irônico — “quer iene?”, referindo-se à moeda japonesa para pagamento de propina nas imagens exibidas pelo “Fantástico”— a transformaram na protagonista de mais um capítulo da triste ópera da corrupção no Brasil.
Em um país fértil em batizar escândalos — como Anões do Orçamento, Sanguessugas e Mensalão —, o ar debochado de Renata não deixa dúvida: é a Desinibida do Rio Comprido. Na reportagem da TV Globo, ela vai além de oferecer propina para ganhar um suposto contrato com um hospital da UFRJ. Sugere a Floresta da Tijuca e a Quinta da Boa Vista para o pagamento.
Ontem, na pouco arborizada Rua do Bispo, no Rio Comprido, onde funciona a Rufolo, ela não apareceu para trabalhar. No prédio onde mora, ali perto, Renata não exibia o mesmo ar confiante do vídeo. De cabeça baixa e com aparência abatida, deixou o edifício em um capenga Fiat Marea verde, ano 2000. E dirigido pelo seu companheiro. Após o escândalo, a desinibida caiu da carruagem da propina e vestiu-se como Gata Borralheira: uma surrada calça jeans e camiseta branca. E tinha abandonado sua inseparável bolsa dourada. Estava básica.
Ao ser abordada, Renata não quis dar entrevista. Baixou os olhos e balançou a cabeça. Após o escândalo, a Desinibida da TV não deu uma palavra.
Seu padrão de vida está distante das cifras milionárias do mercado da corrupção. Ela mora num apartamento de três quartos no Rio Comprido. Segundo vizinhos, a gerente paga aluguel de cerca de mil reais no imóvel, para onde se mudou em janeiro. Ao lado do prédio, cercado de construções abandonadas e pouco conservadas pelos anos de escalada de violência no bairro, jovens consumiam crack. O silêncio de Renata durará pouco. Ela está entre os 17 convocados a depor, a partir de hoje, na Polícia Federal.
Acostumados a ver Renata circular falante e extrovertida pelo bairro, os comerciantes do Rio Comprido pareciam não acreditar nas imagens exibidas na TV. Na academia Kamikaze, onde malhava, nunca foi assídua. Pagava R$ 75 para fazer musculação, ginástica e spinning. Frequentou as aulas por dois anos, mas as deixou no ano passado.
Mais fôlego demonstrava na Rufolo. Chegava entre 9h e 10h na empresa e, não raro, saía depois das 21h. Na vizinhança, estranhavam o movimento de carrões em frente à firma. Muitas vezes, Renata nem saía do prédio para almoçar. Pedia refeições pelo telefone. Quem a conhece é unânime. Muito simpática e extrovertida, é uma figura carismática no bairro.
— É maravilhosa, não estou acreditando — disse uma vizinha.
Nenhuma pista da mulher que o Brasil conheceu domingo. Em seus dez minutos de lama.
fonte:Extra
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