Vinte anos após a primeira Cúpula da Terra - a Eco-92 - no Rio de Janeiro, a Baía de Guanabara - que é o cartão-postal da cidade das conferências da ONU sobre o ambiente - segue poluída.
"A Baía da Guanabara, há vinte anos, recebeu US$ 1 bilhão. E hoje, efetivamente, o resultado prático ambiental disso é que os rios continuam valões de esgoto, temos estações de tratamento que funcionam pela metade ou que nunca viram esgoto", disse à BBC o biólogo Mário Moscatelli.
Continuidade
Na véspera da Rio+20, outra cúpula que pretende achar soluções para problemas ambientais em todo o planeta, a Baía de Guanabara segue como no passado."O principal problema do programa [de despoluição] da Baía de Guanabara foi a falta de continuidade", afirmou o coordenador de saneamento da baía, Gerson Serva.
"Investiu-se muito, mas muitos sistemas não foram concluídos. Nossa estimativa é que ela recebe 20 mil litros por segundo de esgotos domiciliares".
Apenas 60% deste volume de esgoto é tratado. Um novo programa multimilionário de despoluição tem a meta de ter 80% do esgoto tratado até 2016, mas mesmo as autoridades reconhecem que esse desafio é imenso.
"Ainda há muito o que fazer, porque, no entorno da baía moram cerca de 5 milhões de pessoas", disse o professor de engenharia oceânica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Paulo Rosman. "Sessenta por cento deste contingente têm grandes carências em termos de saneamento, de urbanidade, etc."
A baía também sofreu contaminação industrial. Há 12 anos, uma operação da Petrobras vazou mais de 1 milhão de litros de petróleo em suas águas. A empresa diz que implementou programas socioambientais em resposta ao acidente. Mas em Magé, no norte da baía, os moradores reclamam que ainda há sinais de poluição.
"Tivemos uma perda considerável do pescado devido à presença enorme oriunda de hidrocarbonetos das refinarias que estão instaladas na Baía de Guanabara", diz Alexandre Anderson, que é líder de uma associação comunitária. Ele diz que, devido à sua campanha contra poluidores da Baía, recebe ameaças anônimas, e anda com escolta policial.
A situação da Baía de Guanabara inspirou o artista plástico Vik Muniz a criar uma instalação para a Rio+20. O artista usou objetos associados à poluição - como garrafas de plástico - para recriar a imagem da Baía de Guanabara. Ele explica que sua obra cria beleza a partir de algo feio - exatamente o contrário do que acontece na Baía.
"No contexto verdadeiro, da Baía de Guanabara, você tem justamente o contrário", disse Muniz à BBC. "Você tem uma coisa extremamente bonita, mas que no fundo não é tão bonita assim. Eu quero criar uma situação onde as pessoas possam meditar sobre onde elas se encontram em relação a essa paisagem."
BBC
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