Durante uma noite, O POVO acompanhou o submundo de quem se prostitui pelo crack. Jovens que trocam sexo por uma pedra de R$ 5
Apenas uma delas aceita conversar com a reportagem. As outras duas atravessam a pista e seguem para outros pontos da avenida. “Os clientes levam a gente pros motéis aqui perto”, conta a jovem de 20 anos, que já havia feito quatro programas naquela noite (o relógio marcava 0h15min).
Agitada, a jovem movimentava a cabeça e os braços insistentemente (especialistas apontam como efeitos do crack contrações musculares involuntárias e tiques nervosos). O rosto é bonito, mas desgastado para os 20 anos. “Já tentei, mas é difícil sair dessa vida”, comenta.
A jovem diz que tem família, mas passa as noites na rua. Conta que virou prostituta porque quis, mas, depois do crack, perdeu “o rumo”. Se, antes, fazia o programa por R$ 40, R$ 50, hoje vende o corpo pelo valor de uma pedra (R$ 5). Pergunto se usa camisinha e ela afirma que sim. “Vou sair dessa”, repete.
O POVO acompanhou, numa noite de quinta-feira, o submundo de quem se prostitui pelo crack. A reportagem percorreu ruas da Barra do Ceará, os arredores do Terminal Antônio Bezerra e as avenidas José Bastos e Juscelino Kubitschek.
Uma das meninas, na Barra do Ceará, impressiona pela magreza. Está suja, com cabelo desgrenhado e pés descalços. O POVO para o carro, na avenida Radialista José Lima Verde, e a jovem de 19 anos se aproxima, junto com outra mulher. Diz que o programa custa R$ 10 e fica impaciente quando tento puxar assunto. “Estou perdendo é tempo”, encerra, indo embora.
Nenhuma das outras garotas e travestis abordados pela reportagem disse usar crack. Um dos travestis, de 25 anos, reclama que os usuários da droga prejudicam seu trabalho. “Se oferecem por bem menos, R$ 5, R$ 10. Roubam os clientes e acabam manchando nossa reputação”.
A presidente da Federação Nacional das Trabalhadoras do Sexo, Rosarina Sampaio, lembra que, ao usar o crack, as prostitutas se expõem a vários riscos. “Quando estão sob efeito da droga, viram outras pessoas. Perdem a lucidez, esquecem de usar camisinha, podendo pegar doenças sexualmente transmissíveis”.
“Há cerca de um mês, iniciamos uma parceria com a Secretaria Municipal da Saúde para encaminhar essas garotas para comunidades terapêuticas”, acrescenta Rosarina. Nesse período, cinco jovens foram levadas para o Centro de Recuperação Leão de Judá, no Eusébio, Região Metropolitana de Fortaleza.
SAIBA MAIS
Não há dados atuais sobre prostituição e crack no Ceará. Os mais recentes foram publicados em 2008, no livro Os sete sentimentos capitais, organizado pela socióloga Glória Diógenes (Annablume Editora).
O livro traz números de uma pesquisa que entrevistou 328 crianças e adolescentes vítimas de exploração sexual na Capital e Região Metropolitana.
19,9% dos entrevistados (114) indicaram o crack como a droga mais usada.
33,6% (79) afirmaram usar drogas para fazer programas.
14,6% (48) disseram que já fizeram sexo em troca de droga.
Acompanhe a série
No primeiro dia da série, O POVO mostrou que uma pesquisa da Fiocruz mapeou cerca de 300 cenas de uso do crack na Grande Fortaleza. Amanhã, a reportagem conta histórias de meninos que fumam a pedra escondidos em terrenos abandonados.
Tiago Braga
tiagobraga@opovo.com.br
tiagobraga@opovo.com.br
As três jovens, sentadas na calçada da avenida Juscelino Kubitschek, no bairro Castelão, esperavam o próximo cliente da noite. Chego perto e uma delas oferece o programa por R$ 5. Digo que quero conversar e ela insiste no dinheiro. A amiga ao lado se levanta, vira as costas e acende um cachimbo para fumar o crack. “A gente usa tudo, mas é mais a pedra”, diz.
Apenas uma delas aceita conversar com a reportagem. As outras duas atravessam a pista e seguem para outros pontos da avenida. “Os clientes levam a gente pros motéis aqui perto”, conta a jovem de 20 anos, que já havia feito quatro programas naquela noite (o relógio marcava 0h15min).
Agitada, a jovem movimentava a cabeça e os braços insistentemente (especialistas apontam como efeitos do crack contrações musculares involuntárias e tiques nervosos). O rosto é bonito, mas desgastado para os 20 anos. “Já tentei, mas é difícil sair dessa vida”, comenta.
A jovem diz que tem família, mas passa as noites na rua. Conta que virou prostituta porque quis, mas, depois do crack, perdeu “o rumo”. Se, antes, fazia o programa por R$ 40, R$ 50, hoje vende o corpo pelo valor de uma pedra (R$ 5). Pergunto se usa camisinha e ela afirma que sim. “Vou sair dessa”, repete.
O POVO acompanhou, numa noite de quinta-feira, o submundo de quem se prostitui pelo crack. A reportagem percorreu ruas da Barra do Ceará, os arredores do Terminal Antônio Bezerra e as avenidas José Bastos e Juscelino Kubitschek.
Uma das meninas, na Barra do Ceará, impressiona pela magreza. Está suja, com cabelo desgrenhado e pés descalços. O POVO para o carro, na avenida Radialista José Lima Verde, e a jovem de 19 anos se aproxima, junto com outra mulher. Diz que o programa custa R$ 10 e fica impaciente quando tento puxar assunto. “Estou perdendo é tempo”, encerra, indo embora.
Nenhuma das outras garotas e travestis abordados pela reportagem disse usar crack. Um dos travestis, de 25 anos, reclama que os usuários da droga prejudicam seu trabalho. “Se oferecem por bem menos, R$ 5, R$ 10. Roubam os clientes e acabam manchando nossa reputação”.
A presidente da Federação Nacional das Trabalhadoras do Sexo, Rosarina Sampaio, lembra que, ao usar o crack, as prostitutas se expõem a vários riscos. “Quando estão sob efeito da droga, viram outras pessoas. Perdem a lucidez, esquecem de usar camisinha, podendo pegar doenças sexualmente transmissíveis”.
“Há cerca de um mês, iniciamos uma parceria com a Secretaria Municipal da Saúde para encaminhar essas garotas para comunidades terapêuticas”, acrescenta Rosarina. Nesse período, cinco jovens foram levadas para o Centro de Recuperação Leão de Judá, no Eusébio, Região Metropolitana de Fortaleza.
SAIBA MAIS
Não há dados atuais sobre prostituição e crack no Ceará. Os mais recentes foram publicados em 2008, no livro Os sete sentimentos capitais, organizado pela socióloga Glória Diógenes (Annablume Editora).
O livro traz números de uma pesquisa que entrevistou 328 crianças e adolescentes vítimas de exploração sexual na Capital e Região Metropolitana.
19,9% dos entrevistados (114) indicaram o crack como a droga mais usada.
33,6% (79) afirmaram usar drogas para fazer programas.
14,6% (48) disseram que já fizeram sexo em troca de droga.
Acompanhe a série
No primeiro dia da série, O POVO mostrou que uma pesquisa da Fiocruz mapeou cerca de 300 cenas de uso do crack na Grande Fortaleza. Amanhã, a reportagem conta histórias de meninos que fumam a pedra escondidos em terrenos abandonados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário