Tradutor do saber
Fonte: O POVO Online/OPOVO/Páginas Azuis
Consultor, auditor, professor. Trevisan construiu um nome de prestígio no Brasil e no mundo, mas mantém o estilo simples ao ensinar que é preciso agarrar as oportunidades e trabalhar duro
(Foto Igor de Melo)
Ele queria mesmo era ser aviador. Sonhava em saltar de paraquedas. Mas aos 19 anos, por acaso, começou a trabalhar PricewaterhouseCoopers, uma das maiores empresas do mundo em consultoria empresarial. Mas não foi por acaso que se tornou sócio da empresa, onde ficou até fundar sua própria consultoria, a Trevisan Auditores Independentes. Hoje, Antoninho Marmo Trevisan é presidente do Conselho Consultivo da BDO Auditores Independentes, presidente da Trevisan Outsourcing, Trevisan Consultoria e Trevisan Editora Universitária, além de ter fundado a Faculdade Trevisan, que é dirigida pelo filho, Fernando Trevisan.
Considerado um dos maiores especialistas na área econômica-empresarial, o homem que deu conselhos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a crise financeira mundial, atende aos jornalistas com a simplicidade de um cidadão comum. “Uma vez um amigo me perguntou se eu era doido de dar meu celular pessoal para repórteres e clientes. Eu respondi que em todos esses anos só recebi uma ligação em horário inconveniente e mesmo assim porque era um momento delicado de uma empresa”, justifica. A paciência que os anos como professor lhe renderam, e a simpatia que veio como item de fábrica, fazem de uma entrevista com Trevisan um agradável bate-papo com jeitão de aula.
O POVO – Quer dizer que é possível fazer sucesso numa carreira sem ter necessariamente se planejado para ela?
Antoninho Marmo Trevisan - Na verdade o que eu queria era saltar de paraquedas e ser aviador, mas acabei casando com a filha do brigadeiro... Eu cheguei perto. Mas meu início profissional foi uma coincidência. Um belo dia um amigo que ia participar de um exame de recrutamento em uma firma de auditoria passou lá em casa. Eu tinha 19 anos e fui acompanhá-lo, no final eu acabei na sala de espera me inscrevendo, sem saber nem para o que era. Fiz minha carreira e fui sócio dessa firma, da PricewaterhouseCoopers. Então eu considero que essas questões na vida dependem muito de oportunidade e de você abraçá-las, e eu também sempre acreditei que na vida você não pode fazer somente o que gosta, mas eu aprendi que gostar de fazer o que você tem que fazer, traz muito mais alegria, porque raramente você consegue coincidir as coisas na sua vida, então eu resolvi não gastar energia com aquilo que não estava disponível e me dediquei de corpo e alma ao meu negócio, que me dava muita alegrias. Uma delas foi abrir meu escritório em Fortaleza, que foi o terceiro que eu abri no Brasil, dos 15 que temos. Aprendi também que atuar nas entidades de terceiro setor nos permite fazer mais com menos, ser solidário, olhar as pessoas como elas são e não como eu gostaria que elas fossem. Em um livro que escrevi, falo dessa experiência, de você não querer estar com as pessoas iguais a você o tempo todo, porque você não tem trocas. Ao compartilhar experiências com outras pessoas você vai notar que elas não são melhores ou piores que você, elas são diferentes. Isso foi importante para a minha vida profissional e para a liderança de uma grande empresa na área de serviços e uma faculdade que eu também criei e que hoje está em sete estados brasileiros.
OP – O quanto então é importante traçar metas e segui-las para alcançar sucesso profissional e até pessoal?
Trevisan - Eu acho que metas são importantes, mas eu nunca fui escravo delas. Eu entendo que a vida por si só já é tão inusitada, e oferece tantas oportunidades que é preciso você traçar um caminho, um macro geral, mas deve ir atento às vibrantes oportunidades e agarrá-las. Não estou falando de ficar mudando todos os dias, que eu também não fiz isso porque tenho um pouco dessa visão de que as relações duradouras são sempre muito boas, mas é preciso que você compartilhe de outros ambientes e tente estímulos novos. Eu fiz isso o tempo todo e só me trouxe satisfações e experiências fantásticas.
OP – É aliar a oportunidade com a dedicação?
Trevisan – É. Por exemplo, aqui no Ceará vejo essa característica. Nos nossos recrutamentos os melhores classificados são do Ceará, isso é curioso, e eu lembro que estava mostrando para o Ciro (Gomes) esse ranking e eu disse “Ciro olha só, esse já é a terceira ou quarta vez que o resultado se repete. Se a gente só colocar os primeiros, só vão haver cearenses na nossa empresa”, e ele comentou “É porque o cearense sabe que não pode errar e quando ele tem uma chance, ele é o primeiro”. E talvez seja esse um fato: quando você enfrenta dificuldades e aparece uma oportunidade, você vai a luta e é o primeiro.
OP – Mas o senhor deu uma guinada importante quando decidiu abrir sua própria empresa, apesar de ter chegado ao cargo de sócio na Price. Como identificar a hora certa para essa mudança no rumo?
Trevisan - Num curto espaço de tempo eu tinha escalado todas as posições e era sócio da Price. Eu saí no melhor momento da minha vida. Acho que é importante você sair quando está no auge, quando está prestigiado. É claro que há momentos que as pessoas vão buscar outras oportunidades ou perderam o emprego, mas eu não acho que seja o melhor momento.
OP – Quando o senhor abriu sua empresa tinha apenas 32 anos. O Brasil de então era um País promissor para uma nova empresa de auditoria, ou o Brasil mais promissor para qualquer empresa é o de hoje?
Trevisan - O Brasil vivia um momento de crise quando eu abri minha empresa em 83, e ali eu percebia que tinha uma nova economia entrando, e com novas oportunidades e uma nova maneira de olhar os negócios. Hoje o aspecto do Brasil é diferente, mas é uma enorme oportunidade, aliás, qualquer janela que você abre hoje encontra enormes oportunidades. Há um mercado amplo, investidores muito ávidos por iniciar negócios no Brasil. Já atendemos questões básicas, como dar comida para as pessoas, distribuir melhor a renda. O segundo estágio vem do desejo de ser feliz, no sentido de entretenimento, prazer, leitura, diversão, são coisas que o indivíduo passa a desejar quando ele atende às suas necessidades básicas, de estar vivo. Então o mercado está aberto.
OP – Alguns novos setores já estão nesse segundo estágio, inclusive em relação à qualificação?
Trevisan - Nessa semana um grupo de amigos empresários vieram me falar que suas filhas queriam fazer um curso de fashion business, e eles me provocaram para que eu abrisse um MBA nessa área. Veja o que está acontecendo, a moda que até pouco tempo atrás era olhada como um detalhe, se mostrou uma indústria importantíssima no Brasil. O Ceará tem uma história importante neste setor também. Lá na Trevisan vamos abrir um curso de fashion business, que explica como se faz a gestão desse mundo da moda, que é um mundo fantástico. Assim como há 10 anos que nós já temos na faculdade o curso de gestão de esportes e a gente percebe que agora as pessoas estão visando a Copa, as Olimpíadas. Há uma preocupação de quem é que vai cuidar desse negócio todo, por isso que nós cuidamos para abrir esse curso em todas as cidades que irão sediar a Copa do Mundo, inclusive Fortaleza.
OP – Essa sua visão é fundamental para a consultoria e a escola de negócios, mas o senhor acha que parte do seu sucesso pode ser atribuído a sua capacidade de transmitir as informações, didaticamente, como um professor mesmo?
Trevisan - Quando eu saí da Price e abri minha empresa de ensino e treinamento, ainda dava aula na Faculdade Getúlio Vargas e o convívio com os alunos sempre me mostrou um caminho muito bacana, porque era uma maneira de eu também estar estimulado a aprender mais e a conviver com essas perturbações típicas dos jovens. Isso sempre me encantou muito e me instigou, e acabou que abrimos a nossa faculdade em 99. Eu talvez tenha sido um dos primeiros auditores que falou com a imprensa. Lá em 78/79 não havia caderno de economia, então os jornalistas tinham uma dificuldade de entender as coisas, e eu sempre gostei muito de explicar a maneira que eu compreendia as coisas. Eu considero que seja um dever que todos aqueles que têm algum conhecimento transferi-los, porque o conhecimento que fica só com você não tem valor e não traz benefício para a sociedade.
OP – E esse conhecimento foi compartilhado não apenas com jornalistas, mas também com empresários e autoridades políticas como o ex-presidente Lula.
Trevisan - O que eu noto é que a recompensa vem no reconhecimento. O prestígio não é pra gente ficar orgulhoso, mas serve pra você poder cada vez mais contribuir. Contar suas opiniões para a mídia é uma maneira de retribuir aquilo que a sociedade lhe permitiu aprender, seja porque permitiu que você estudasse, ou porque comprou o seu produto ou o seu serviço. Uma democracia deve ser exercitada. Se os detentores de conhecimento não se abrem, como as pessoas vão saber das coisas e reivindicar seus direitos? O conhecimento com o ex-presidente Lula e com outras autoridades, essa satisfação decorre de você ser reconhecido. Eu vivi situações como a da crise econômica, de ser chamado pelo presidente para dar minha opinião sobre como eu olhava a crise naquele momento, em outubro de 2008, e pude dizer que a economia brasileira, ia tão bem que me pareceu errado puxar o freio, que deveria ser feito o oposto.
OP – E acabou que foi essa a política adotada...
Trevisan – O Conselho de Desenvolvimento Econômico Social deu a sua visão sobre o assunto e viu que não havia necessidade do Brasil se incorporar à crise, então nós tínhamos um povo demandando produtos e serviços. Era o caso de oferecer crédito e não deixar se instalar uma crise de desemprego. O presidente Lula foi muito sensível a isso, foi quando ele falou da questão da ‘marolinha’ e acertou. No Exterior nós somos perguntados sobre como o Brasil se safou dessa crise.
OP - Mas as crises nem sempre tem impactos imediatos. O senhor acredita que ainda podemos ter dificuldades?
Trevisan - O Brasil vive esse momento extraordinário que é a convergência dos considerados três fatores necessários para um país ser sustentável. O primeiro é o fato de ser uma democracia, uma sociedade democrática, um ambiente político democrático. O segundo é de você estar vivendo num país com inflação bastante controlada e o terceiro é que temos uma taxa de crescimento apreciada. O Brasil nunca havia experimentado as três juntas, e hoje vive uma expectativa de crescimento sustentável. Esses elementos atraem investidores de forma acelerada. Lá fora as pessoas olham que temos um mercado interno formidável e uma revolução em todas as áreas -social, educacional, industrial, esportiva -, tudo isso nos encaminha para uma década em que dificilmente o Brasil não tenha, no mínimo, um crescimento contínuo e sustentável. Os investidores procuram essas condições melhores para investir.
OP - Essas divisas nos dão a garantia de um crescimento com níveis controlados de inflação?
Trevisan - É. O que é bom é ruim. Porque a demanda de alimentos (que será o problema do mundo) cresce muito, sobretudo por conta da China. A crise no Oriente Médio acelera o preço do barril de petróleo, e felizmente o Brasil tem autossuficiência, mas certamente o preço dos alimentos começam a ter crescimento importante e aí afetando um pouco a inflação, muito mais por conta dessas demandas externas, onde você está exportando mais do que se tinha no passado, é por isso que os preços no Brasil tendem a crescer.
OP - E daí corremos o risco de enfrentarmos outras dificuldades, novas dificuldades já que entramos num novo governo?
Trevisan - Esses três fatores, aliados a um governo agora, mais técnico, irá buscar eficiência do Estado. Nós teremos quatro anos de pente fino, onde será visto que, como a gente pode fazer mais com menos, vamos resolver o problema, por exemplo, das empresas brasileiras que não conseguem exportar. Vamos olhar como nós melhoramos a nossa relação com os Estados Unidos em relação às tarifas alfandegárias. Isso pode dar uma desacelerada no crescimento. Mas o importante é crescer sempre e não ter buracos de crescimento, eu acho que uma taxa de crescimento de 4% a 5% é excelente se você conseguir mantê-la por 10 anos. O Brasil certamente em uma década terá dobrado de tamanho. O governo Dilma me parece muito claro que irá se pautar por isso, me parece um governo mais cuidadoso em relação aos gastos e ao desempenho da aplicação dos recursos. Eu acho isso muito bom, porque você saiu de oito anos de crescimento acelerado onde de certa forma não se deu importância para gestão. Esse vai ser um governo que a qualidade da gestão, a eficácia, vai prevalecer.
OP - O senhor acredita que o brasileiro está mudando culturalmente por causa desse novo momento econômico?
Trevisan - Nos aeroportos é possível ver os brasileiros vivendo alegremente seu direito de ir e vir. Essas conquistas são definitivas e agora há o ‘quero mais’. A gente não quer só comida, a gente quer alegria. Então se você olhar o número de jovens matriculados no Prouni, são pra mais de 500 mil jovens que estarão se formando, alguns já se formaram. Jovens que não teriam a menor chance de estudar em uma escola de primeiro nível, e que estão se formando, estão não só acendendo socialmente, mas levando para as suas famílias toda essa nova vivência que eles estão tendo. A própria preocupação dos brasileiros em exercitar o prazer no sentido do entretenimento, da cultura, demonstra que nós estamos dando passos bastante fortes para ser um país de primeiro mundo, que privilegia a felicidade acima de qualquer coisa. E o fato de nós estarmos há mais de 20 anos vivendo uma democracia fez com que as organizações não governamentais ganhassem um peso importante dentro da sociedade junto da classe política e, portanto indicando claramente que o Brasil caminha para um país melhor.
OP - Dentro dessa nova realidade o senhor vê o Nordeste realmente chegando num ponto relevante de desenvolvimento ou precisamos continuar considerando que partimos de índices muito baixos?
Trevisan - A primeira coisa importante é que o Nordeste está sendo colocado no mapa das indústrias. Hoje a região é vista para análise das plantas com a mesma naturalidade que o Sul. Os maiores investimentos da Ambev estão se situando aqui no Nordeste. As indústrias automobilísticas também estudam implantação aqui. Tudo que um investidor quer é não ser surpreendido. Ele avalia se o desenvolvimento de uma região é sistemático. Os investimentos levam quatro anos para ter retorno. No caso do Nordeste há um crescimento continuado e uma facilidade natural para a instalação de novas indústrias, empresas e serviços.
OP - Mas dentro do próprio Nordeste há disputa entre os estados para recebr investimentos.
Trevisan - O Ceará cresceu a taxas bem maiores que Pernambuco durante um bom período, e agora tivemos um presidente pernambucano, o que acabou por privilegiar o Estado. Tem ainda o histórico de um grande governador, Eduardo Campos, que se mostrou um governador moderno e preocupado. Ele ia muito em São Paulo, procurava os empresários. Eu mesmo organizei encontros para ele. Acho que o político tem que ir em busca do investidor e mostrar que ele é bem-vindo. Isso pesa muito na escolha, tanto que nosso escritório se especializou na localização de empresas do setor automobilístico para abrir umas 10 a 15 fábricas. Meu escritório que fez o que chamamos de site selection a seleção do espaço. São Carlos (SP) levou a fábrica da Volksvagem por conta da qualidade da universidade, que é um polo formador de tecnólogos. A logística também é fundamental, e o outro ponto que pesa é a capacidade dos políticos articularem no sentido de atrair e não infernizar a vida do investidor. O investidor deve ser colocado no tapete vermelho, porque é ele que gera renda. Não sei se o (governador ) Cid (Gomes) tem ido a São Paulo, mas se ele não vai, deveria ir. São Paulo acaba sendo o centro financeiro e o papel do governador é o de vender o Estado e trazer uma economia forte. É brigar pelos projetos. Como qualquer pessoa que quer o sucesso deve fazer.
Henriette de Salvi /henriette@opovo.com.br
As citações em negrito é de total responsabilidade do Sapipa Informativo, não consta na entrevista original
Wow do blog
ResponderExcluircomo é que faz essa imagem que aumenta e parece se mexer,essa ai logo acima no canto esquerdo,é interessante viu.