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domingo, 17 de julho de 2011

E o biquíni criou a mulher


HÁ 65 ANOS era criado o biquíni. A peça do vestuário feminino revolucionou a moda e o comportamento das mulheres

Toda invenção é cercada de mistério. Com o biquíni, a regra não poderia ser diferente. Alguns historiadores da moda apontam que a criação da peça remonta ao conjunto top e short, usado pelas mulheres romanas do século IV. No entanto, a legitimação do biquíni só acontece mesmo em 1946, graças a um acontecimento político. Nesta época, bombas nucleares foram testadas no Atol de Bikini, nas Ilhas Marshall. Os habitantes do sul do Pacífico atingidos pelos efeitos da radiação foram examinados pelos médicos norte-americanos, com uma indumentária improvisada: pedaços de jornal foram recortados para cobrir as partes íntimas dos pacientes.

A história do jornal-lingerie levou o estilista francês Jacques Heim a apostar no desenho de quatro triângulos costurados em fino algodão, que moldavam um novo traje de banho, nomeado de “átomo” – referência direta à bomba e com a sugestão de que era “o menor maiô do mundo”. Como provocação, o estilista francês Louis Réard rasga a peça ao meio e o novo molde é batizado de Bikini, “menor que o menor maiô do mundo”. A ousadia de Réard eternizou o nome de uma das mais populares peças do vestuário feminino. O Vida & Arte Cultura celebra os 65 anos do biquíni, resgata sua evolução e procura entender como ele foi – e ainda é – importante para o lugar da mulher na sociedade.

No raiar de sua invenção, o biquíni foi taxado como instrumento de atentado ao pudor e aos bons costumes. “Era visto como indumentária demoníaca, mas precede à liberação do corpo que começava a ser sinalizada”, explica a pesquisadora Maria Alice Ximenes, doutora em Artes pela Unicamp e autora do livro Moda e arte na reinvenção do corpo feminino do século XIX. Nenhuma modelo aceitou usar o biquíni a princípio. A primeira mulher a desfilar com o traje foi uma stripper do Cassino de Paris, Micheline Bernardini, que se deixou ser fotografada à beira de uma piscina pública na capital francesa, em 5 de julho de 1946. O início do uso do biquíni era restrito a mulheres corajosas, que costumavam transcender regras sociais.

Durante a década de 1950, o biquíni ganha status de sedução, no corpo de divas do cinema hollywoodiano. A musa Marilyn Monroe usava uma versão comportada da indumentária, mas foi a francesa Brigitte Bardot que escancarou as possibilidades de modelos mais provocantes, ao aparecer no filme E Deus criou a mulher (1956), de Roger Vadim. “O cinema é uma arte com certo vanguardismo.

A imagem da mulher casta e pura era substituída pela livre e ousada”, comenta a socióloga Maria Dolores de Brito, professora do curso de Estilismo e Moda da UFC. As pin-ups norte-americanas também foram responsáveis pela divulgação do biquíni como símbolo de sensualidade. A precursora foi Jayne Mansfield, que posou nos ombros do seu marido, com estampa de oncinha.

Liberdade
Aos poucos, as resistências mais conservadoras foram vencidas até que a peça se difundiu mundialmente nos anos 1960. No filme 007 Contra o Satânico Dr. No (1962), a atriz Úrsula Andress surge do mar com um biquíni que a eterniza como sex symbol. Ao ser desbravado pelo cinema, o biquíni invade as praias, apesar da condenação do Vaticano que baniu o uso da peça em países católicos, em 1964. No mesmo ano, surge o monoquíni – uma prévia do topless –, criado por Rudi Gernreich, na Califórnia. Era o símbolo de liberdade para a mulher que queria expor seu corpo quase nu ao sol.


Nos anos 1970 e 1980, o biquíni agrega novas versões, que vão do asa-delta ao fio dental. Depois de décadas de transformações, a peça pode ser encontrada em qualquer formato, desde os mais clássicos – com tangas na altura do umbigo e sutiãs de bojos – até os mais modernos - com tops minúsculos e detalhes para todos os gostos. No século XXI, não há mais limites para o biquíni

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