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domingo, 20 de novembro de 2011

Eles são sexagenários, mas têm espírito de adolescentes

Eles gastam muito com roupas, fazem academia, gostam de viajar, ir a shows e acompanham as novidades tecnológicas. Parecem, mas não são jovens querendo descobrir o mundo: são "sexalescentes" (uma combinação de sexagenários e adolescentes), expressão que define algumas pessoas que passaram dos 60 anos neste século XXI.

Para a psiquiatra argentina Graciela Norma Moreschi, da Associação de Psiquiatras Argentinos (Apsa), esses sexagenários fazem parte de um novo segmento social e têm adoração por uma adolescência que só existe na mente dos adultos. "Ela é livre de responsabilidades, porque os filhos do pós-modernismo não conhecem nenhum tipo de limite. São os reis da casa e os pais trabalham para eles. Esses são os adolescentes que os sexagenários querem imitar", diz.

Por outro lado, existem muitas pessoas que passaram dos 60 e não pretendem imitar qualquer fase anterior da vida, apenas continuar esbanjando saúde e disposição. Os sexagenários de hoje, explica o geriatra Flávio Chaimowicz, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), não são os mesmos do passado.

"Eles chegam aos 60 com o corpo e a cabeça de 40 e com menos limitações provocadas por doenças. Estamos vendo idosos fazendo de tudo. Aos 50, eles faziam isso e hoje continuam. Aos 70 e aos 80, vão continuar, desde que tenham saúde", diz o médico.

Para a aposentada Maria de Lourdes Cleopoldino Duffles, 69, a idade está na cabeça. "Se a pessoa achar que tem 70 anos e que não vai dar conta de nada, não vai mesmo", diz ela, que se considera dinâmica, independente e adora viajar.

O dia a dia movimentado também toma conta do aposentado Fábio Eustáquio de Carvalho, 66. "Gosto de forró, praticar esportes, ir em festas, shows, saio em bloco de Carnaval", conta. Casado há 38 anos, pai de três filhos e com cinco netos, Fábio se demonstra feliz com a fase atual. "Jogo bola com meus filhos, vamos em shows juntos. Temos comportamento quase igual e independente da idade", conta ele, que deseja "fazer muitas coisas na vida", como viajar.
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Já a curiosidade é o que move o empresário Antonio Carlos de Abreu e Sousa, 62. "Gosto de conhecer coisas novas. Não sei se isso é ser jovial, mas sou assim", conta. Entre suas atividades favoritas, estão esporte, acampamento, dança, cinema e shows. "Em shows, você entra no clima. Vi o Rolling Stones no Maracanã (Rio), o AC/DC no Morumbi (São Paulo) e vou ao Roger Waters", conta os planos para ver o ex-membro do Pink Floyd em março, no Brasil.

Para o empresário, o envelhecimento é natural, "a sequência da vida". "Você morre ou envelhece. Faço as coisas dentro da minha possibilidade. Se for permitido, não vou achar ruim morrer com 180 anos", brinca.

A geriatra Karla Giacomin, membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, considera importante encarar a "passagem" que é o envelhecimento. "Envelhecer no século XXI é uma novidade para todos e cada grupo encontra uma forma", diz.

Para a médica, a "sexalescência" seria apenas uma das maneiras. "Há os que descobrem o esporte, os que vão para igreja. O sexalescente é mais uma forma de viver o envelhecimento. Se é modismo ou vai permanecer, o tempo vai dizer", diz.
MINIENTREVISTA
"As pessoas não aceitam o passar do tempo"
Graciela Moreschi
Psiquiatra e autora de "Adolescentes Eternos"

Qual a origem do termo "sexalescente"? 
O termo não é meu. Remete a uma moda atual onde os sexagenários querem se ver e têm atitudes de adolescente - uma idade supervalorizada, onde tudo é possível. Parece que os adultos se esqueceram das atribuições dessa etapa, plena em incertezas e dúvidas. A adolescência adorada é a que existe apenas na mente dos adultos. São mulheres e homens que lutam contra o passar do tempo. Se vestem como se fossem adolescentes, gastam fortunas em roupa, cosméticos, academia. Antes considerava-se que a idade trazia certos privilégios, mas hoje é sinônimo de doença, desatualização, é quase um insulto. Quando se perdeu esse reconhecimento pela idade avançada, apareceram esses "sexalescentes", que não podem valorizar a própria experiência de vida e parecem não ter mudado nem ganhado nada com os anos.

Como essas pessoas são caracterizadas?Esses sexalescentes tendem a ser rígidos como os adolescentes, que, por insegurança, agarram-se em um polo em detrimento do outro e se esquecem que a vida está cheio de opostos.
Quais as desvantagens desse comportamento?As pessoas não aceitam o passar do tempo. Quando já não podem se enganar e nem enganar as pessoas, elas se deprimem, entram em uma grande ansiedade porque não têm recursos internos.(AJ com Heloísa Mendonça)


O TEMPO

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