A crise na segurança pública cearense que culminou na greve dos policiais militares e dos bombeiros, gerando o clima de pânico registrado no dia 3 de janeiro de 2012, não foi produto de um mero impulso emotivo acionado no calor de uma negociação frustrada. Historiadores aprendem que revoluções, embora pareçam surgir da noite para o dia, são fomentadas no decorrer de processos longos e complexos.
Portanto, a degeneração de uma relação que deveria ser pautada pelo respeito à hierarquia e à ordem começou muito antes, ainda na campanha eleitoral de 2006. Por ironia, o então candidato Cid Gomes fez da segurança o seu mote eleitoral mais atraente, com a promessa do programa Ronda do Quarteirão. A inviabilidade material de manter policiais fixos em áreas pequenas já deveria servir como evidência de que tudo não passava de um slogan publicitário sem substância real. Como soluções fáceis para problemas difíceis seduzem, a ideia emplacou. Na prática, o programa virou uma vitrine de luxo, com fardas diferenciadas e camionetes importadas, tudo muito chique. Além de melhores salários que os outros policiais.
No decorrer dos anos outras medidas de grande apelo midiático e pouca eficiência prática foram tomadas como avanços reais. Patinetes caríssimos para combater a insegurança na orla de Fortaleza, autofalantes em postes para assustar ladrões de galinha, reuniões cobertas pela imprensa anunciando policiamento “tático” no interior, novas fachadas para delegacias e a “mais moderna academia de segurança pública do Brasil”, são alguns exemplos dessa obsessão pelas aparências. Com o tempo, parece que o próprio governo passou a acreditar em sua propaganda e se fechou a qualquer crítica.
Enquanto isso, sem alarde, a desmotivação e a insatisfação dos policiais que vivem o cotidiano da segurança se transformavam em revolta.
O governo Cid, certamente, deseja acertar em suas ações, mas erra com uma obstinação só comparável à da prefeita Luizianne Lins. Planejou e investiu mal na área. Preferiu ignorar alertas. Aos poucos, perdeu o comando da tropa. Entretanto, criticá-lo depois que o lento e gradual processo de desgaste da segurança culminou na greve da PM, é fácil. Muitos dos que agora apontam erros foram entusiastas dessa política de segurança, enquanto os que mostravam problemas lá nos seus nascedouros eram rotulados de radicais. Só que radical mesmo é sentir na pele uma crise que surpreendeu somente aos que, por conveniência ou omissão, fecharam os olhos nos últimos anos.
fonte: Wanfil
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