Por Menalton Braff
Não gosto muito dessas festas municipais de inauguração. Sobretudo quando se inaugura uma placa indicativa do lugar onde, no futuro, e futuro incerto, haverá uma segunda inauguração (em vésperas de eleições) de uma obra.
Confesso a vocês que esta vidinha cheia de malandragens políticas me cansa.
Acontece que fui convidado para uma dessas inaugurações do lugar onde, no futuro, e futuro incerto, será inaugurada uma obra que se transformará em bandeira eleitoral. Não tive como me safar e lá fui eu para ouvir discursos.
Vocês já repararam como discursos são todos muito parecidos? Algumas frases de efeito, um tom de voz exaltado, que é para levantar as massas, e tudo resumido e espremido resta apenas uma forte sensação de tempo perdido.
Tudo acontecia dentro da chatice prevista quando uma frase me assustou: Vamos transformar Pouso do Sossego numa grande cidade.
Nomes e topônimos são omitidos ou modificados, pois o que interessa é a situação, o modo de pensar. E isso quase não tem variação.
E eu fico aqui pensando: qual a razão de estarmos sempre competindo? Conheço uma cidade onde se construiu um prédio de dez andares só porque a cidade vizinha, portanto rival, tinha construído o seu. As salas, pelo menos metade delas, continuam acumulando poeira e teias de aranha. Não importa: de longe, lá da estrada pode-se ver a majestade do principal edifício da cidade, que em nada perde para o edifício da cidade vizinha.
‒ Vamos transformar Pouso do Sossego numa grande cidade.
Alguns podem argumentar que este sentimento de emulação é que promove o progresso. Precisamos ver isso com mais vagar. Que tipo de progresso? Econômico, técnico, civilizacional? Progresso é palavra vazia, sem um recheio nada significa. Progresso social, é isso que se quer com o crescimento? Bem, então pode mesmo ser desejável. Mas quando se quer transformar uma cidadezinha em uma grande cidade, me parece que a categoria desejada é a do maior tamanho.
fonte: Carta Capital
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