Algumas leis demoram tanto a se efetivar oficialmente que soam quase como piada. Terça, as redes sociais ficaram turbinadas com a deliberação da presidente Dilma Rousseff de compreender “como manifestação cultural a música gospel e os eventos a ela relacionados”. Como assim? Até ontem, não eram. Eram, sim. Como também já eram - sem querer aqui criar nenhuma polêmica - casais legítimos os homossexuais em relacionamento estáveis antes de o Supremo Tribunal Federal assim determinar. Então, o que muda? Nada. E tudo. Nada porque quem já tinha essa compreensão da música gospel não vai alterar em nada sua vida. E tudo, porque, no campo da cultura, os efeitos a longo prazo não são previsíveis. É possível que essa decisão fortaleça o cenário nacional da música gospel? Talvez. A verdade, porém, é que música gospel brasileira não tem nada de frágil. Há tempos os artistas desse gênero deixaram os palcos de suas igrejas. A cantora carioca Aline Barros, por exemplo, não de agora emplaca hits nas rádios mundanas e faz sucesso nas trilhas de novelas. Como ela, uma legião de outros artistas trabalham o ano inteiro e movimentam um mercado de fé e muito dinheiro. O lugar da fé, e não o da cultura, é o que deveria ter aguçado as discussões recentes. A decisão da presidente Dilma não é mais forte que a dinâmica da cultura. Não há, por exemplo, nenhuma lei no Brasil que diga que o acarajé é um elemento da gastronomia e não da religião. Mesmo assim, o famoso bolinho recheado continua sendo servido nos restaurantes e terreiros por motivos os mais diferentes.
Magela Lima, editor executivo do Núcleo Cultura e Entretenimento do O POVO
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