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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Um prefeito para chamar de seu

Depois das experiências em rádio, jornal, televisão e blog só me faltava esta (como diria minha mãe): escrever em revista. E logo na última página, aquela que eu sempre respeitei tanto, onde li cronistas incríveis e histórias super interessantes. Foi o pessoal da Época São Paulo quem me proporcionou esta oportunidade, quase um ano depois de ter aberto o espaço para mim neste blog. No convite feito pessoalmente pelo Camilo Vannuci não constava a enorme ansiedade que eu teria ao começar a digitar o artigo, ato que se repetiu com irritante frequência, sem que eu conseguisse ir além do primeiro parágrafo. Falo pelos cotovelos quando o microfone está aberto, solto a palavra ao publicar no blog, mas escrever em uma revista é um baita desafio. Revistas, assim como jornais e telejornais, tem um negócio que chamam de deadline -nome apropriado a medida que muitos colegas são fuzilados quando não entregam sua reportagem no prazo determinado pelo editor. O meu se aproximava a medida que o medo aumentava. E vice-versa. O texto ficou pronto com antecedência, é bem verdade. Mas li um tanto de vezes e, por sorte e por bons editores, recebi sugestões da redação da Época até chegar a versão final. Talvez você o leia e não perceba todo este esforço e apoio, mas quero deixar registrado aqui que minha sensação foi a de um parto: com sofrimento e um prazer sem tamanho. Falei de um tema que me interessa em especial, a política local. E que, tenho certeza, lhe interessará, também, em breve. Afinal, em 2012 vamos escolher um novo prefeito para a cidade de São Paulo, de preferência um prefeito para chamar de seu.
Vamos à crônica publicada na edição da revista Época São Paulo, no início de janeiro:
No meu trabalho, tenho o hábito de conversar com toda sorte de especialistas sempre que preciso repercutir algum assunto ou compreendê-lo melhor. Foi Zuenir Ventura, no livro Inveja: Mal secreto (Objetiva), quem definiu o jornalista como um “sujeito que não sabe – só sabe encontrar as pessoas que sabem”. Pessoalmente, e sem nenhum demérito dos especialistas, gosto mesmo é de ir às ruas conversar com as pessoas comuns para saber o que estão pensando. Elas costumam refletir, de maneira simples e sem rodeios, o que os mestres descobrem interpretando estatísticas. Quando o tema é política, como nesta minha coluna de estreia, a disposição a opinar fica ainda mais evidente. Todo mundo parece ter seu lado especialista. E os institutos de pesquisa estão aí para tirar proveito disso.
A pesquisa mais recente sobre a sucessão municipal, feita pelo Datafolha em dezembro, mostrou a baixíssima popularidade do prefeito Gilberto Kassab (PSD), aprovado por apenas dois de cada dez paulistanos. Quase metade dos entrevistados disse que não elegeria um candidato que tivesse seu apoio. Não é preciso ir além da padaria da esquina para entender os números: basta perguntar ao vizinho de balcão ou ao moço que lhe serve o pingado e você, provavelmente, ouvirá o que tenho escutado. “Ele só pensa naquilo”, ouvi do balconista, referindo-se ao PSD, o partido que Kassab conseguiu construir em tempo recorde.
O cidadão tem a percepção de que o prefeito deixou a cidade em segundo plano enquanto arregimentava apoio para a nova sigla. Percepção é algo que se baseia na interpretação que as pessoas fazem da realidade – e não, necessariamente, na realidade em si –, de modo que pouco adianta o alcaide, seus secretários e apoiadores investirem em publicidade para provar o contrário. A nove meses da eleição, seja qual for seu candidato, Kassab terá tempo e um orçamento de R$ 38,8 bilhões para tentar recuperar sua imagem.
Desconfio que nada disso será suficiente. Algo que parece evidente, tanto nas pesquisas quanto nas minhas consultas, é que o paulistano está cansado de políticos mais preocupados com seus umbigos do que com os buracos da cidade. José Serra (PSDB), eleito em 2004, talvez tenha colaborado com isso ao deixar a prefeitura para disputar o governo do Estado, apesar de ter registrado em cartório sua intenção de permanecer no cargo até o fim. Sagrou-se vitorioso, é verdade, mas basta ver seu índice de rejeição na capital – 35%, segundo o Datafolha – para entender que há um movimento em busca de nomes mais dedicados à cidade.
Declarações recentes do pré-candidato Gabriel Chalita – que se elegeu vereador pelo PSDB, deputado federal pelo PSB e deve disputar a prefeitura pelo PMDB –, demonstram que os políticos também entenderam essa ansiedade do paulistano. “São Paulo não pode mais ser trampolim para outros cargos”, disse, em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, na RedeTV!. Recentemente, o pré-candidato Fernando Haddad (PT) também se propôs a assinar um documento no qual se comprometeria a cumprir o mandato, semelhante ao rasgado por Serra. Vão precisar mais do que papéis para dobrar o eleitor. O novo prefeito terá de adotar São Paulo como seu desafio maior e convencer o cidadão de que seu projeto de vida está na solução para problemas que começam na calçada em frente de casa. O paulistano, como disse a moça do caixa enquanto me entregava o troco, quer um prefeito para chamar de seu.
fonte: Época/São Paulo/Milton Jung

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