janela descendo

sexta-feira, 3 de junho de 2011

O VELHO, O MENINO E O BURRO

Num lugar que você sabe este fato aconteceu.
As pessoas que eu descrevo, você talvez conheceu.
E se você não se lembra,
procure na consciência.
Porque se houver semelhança,
não é mera coincidência.

O burrico vinha trotando pela estrada.

De um lado vinha o velho, puxando o cabresto,
outro vinha o menino
, contente, que o dia estava fresquinho e o sol
brilhava no céu.
dois homens.


Sentados no barranco estavam
Então viram o burro, velho e o menino, um cutucou o outro:

burro, vem é puxando ele!



– Veja só, compadre! Que despropósito! Em vez do velho montar no
dois se olharam e nem esperaram.


O velho e o menino se olharam.



Assim que viraram na primeira curva, o velho parou o burro e montou
nele.



O menino segurou o cabresto e lá se foram os três, muito
satisfeitos.


Até que perto da ponte tinha uma casa com uma mulher na janela.



– Olha só, Sinhá, venha ver o desfrute! O velho no bem-bom, montado
no burro, e o pobre do menino gramando a pé!
O velho e o menino se olharam de novo.




Assim que saíram da vista da mulher, o velho desceu do burro e
botou o menino na sela.



E foram andando um pouco ressabiados, o velho puxando o burro pelo
cabresto, pensando no que o povo podia dizer.


Logo logo, passaram numa porteira onde estava parada uma velha mais
uma menina.



– Mas que absurdo, minha gente! Um velho que nem se agüenta nas
pernas andando a pé, e o guri, bem sem-vergonha, escanchado no burro!


O velho mais que depressa montou na garupa do burro e lá se foram
os três.


Dali a pouco encontraram um padre que vinha pela estrada mais o
sacristão:


– Olha só, que pecado, onde é que já se viu? O pobre do burro,
coitadinho, carregando dois preguiçosos! Mas isso é coisa que se faça?
O velho e o menino, desanimados, desmontaram e nem discutiram:
saíram carregando o burro.
 



Mas nem assim o povo sossegou!


Cada vez que passavam por alguém, era só risada!



– Olha só os dois burros carregando o terceiro!


Quando chegaram em casa, o velho sentou cansado, se assoprando:


– Bem feito! — ele dizia. — Bem feito!


– Bem feito o quê, vô?


– Bem feito pra nós.

Que a gente já faz muito de pensar pela própria cabeça,

e ainda quer pensar pela cabeça dos outros.

Agora eu sei por que é que meu pai dizia:




Quem quer agradar a todos
a si próprio não faz bem!
Pois só faz papel de burro
e não agrada a ninguém!

ESG.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

pág