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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Delirium politicus


Fico perplexo sempre que leio o artigo assinado pela prefeita Luizianne Lins às terças-feiras. Confesso que tenho dificuldade em acreditar que ela está se referindo à realidade de Fortaleza. Uma leitura psicanalítica do seu artigo do dia 11/10 definiria o quadro como grave manifestação de delirium politicus.

Afirmar que a sua administração prioriza nossas crianças é, no mínimo, hilariante. Centenas de milhares de crianças e jovens se encontram em situação de efetivo risco social e a nossa gestora, por falta de foco administrativo, não tem projeto com um mínimo de eficiência capaz de combater e reverter a situação de penúria social.


Em lugares como grande Bom Jardim, São Miguel e Grande Pirambu, dominados pelo tráfico e pela extrema violência, onde sua população encontra-se abandonada à própria sorte, milhares de vidas são ceifadas diante de uma estoica indiferença da gestora municipal. Será que a Luizianne desconhece que a criminalidade vem aumentando sistematicamente nessas áreas?


Como falar que a nossa criança é prioridade quando a educação que a Prefeitura lhe oferece é reconhecidamente ruim, ficando no nada honroso 180º lugar entre 184 municípios? Se o sistema municipal de saúde é ineficiente e o atendimento é caótico, com carência gritante de profissionais da saúde, remédios e equipamentos? Como falar em prioridade quando o sua administração manda desativar a enfermaria de pediatria do Frotinha de Antônio Bezerra?


Como falar em cidadania e direitos humanos quando crianças e jovens não possuem uma eficiente rede de proteção contra a violência? Citar o Cuca da Barra e as Praças da Juventude do Edson Queiroz e do Bonsucesso como bons exemplos de políticas públicas para a juventude é reconhecer a inexistência das mesmas.


Prefeita, Fortaleza necessita de políticas públicas consistentes capazes de garantir alternativas à violência para crianças e jovens carentes. Associada a eficientes políticas públicas para a juventude, precisamos de uma arrojada geração de emprego e renda e de qualificação profissional para incluir socialmente pais e mães de famílias carentes, condição sine qua non para diminuirmos a violência. O resto é tergiversação ou delirium politicus!

João Arruda - joaoarruda@ufc.br
Sociólogo e professor da Universidade Federal do Ceará

fonte: O Povo

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