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terça-feira, 24 de julho de 2012

Sonhos são feitos de planejamento e fibra


Transformá-los em projetos é um jeito de trazer a ideia para o plano do concreto e seguir em frente – mesmo na hora do desânimo


VILFREDO SCHÜRMANN Economista, palestrante e capitão do veleiro Aysso da família Schürmann, que deu a volta ao mundo duas vezes, de 1984 a 1994 e de 1997 a 2000 (Foto: divulgação)
Este ano foi muito especial para mim. Realizei um sonho que vinha perseguindo desde 2005: encontrar o submarino alemão U-513, afundado durante a Segunda Grande Guerra.
A primeira vez que ouvi falar nessa história foi em 2001. Eu participava da regata oceânica na Ilha de Trindade, no Espírito Santo. Em nosso veleiro Aysso, estava o fotógrafo Antonio Husadel, um marinheiro de primeira viagem que, enquanto eu estava no leme, no turno da noite, me contou a história do livro A última viagem do lobo cinzento, de Telmo Fortes. O livro romanceia a história do submarino U-513, antes de ele ser abatido. Naquela noite, me diverti ouvindo meu amigo Husadel, mas não dei bola quando ele me disse: “Esse submarino está próximo à costa do Brasil. Por que você não vai procurá-lo?”.
O contágio aconteceu quando ele me enviou o livro de presente. Narra a história do capitão Karl Friedrich Guggenberger e dos 52 tripulantes do submarino U-513. O capitão foi condecorado com a Cruz de Ferro, a maior honraria da Alemanha, por ter abatido, com o submarino U-81, o porta-aviões inglês Ark Royal.
O submarino U-513 foi atingido por um avião americano em julho de 1943. Dos 53 tripulantes, somente sete sobreviveram, incluindo o capitão Guggenberger. Ele foi levado para a prisão, em Phoenix, nos Estados Unidos, de onde fugiu com outros 23 prisioneiros por um túnel de 70 metros de comprimento cavado por eles. Até o fim de sua vida, em 1973, Guggenberger viveu inúmeras aventuras. Antes de terminar o livro, eu já tinha decidido ir atrás dessa história.
Quando falamos em sonhos, falamos do que foge do comum. E aí não faltam pessoas, inclusive em sua família, para desestimulá-lo, por motivos bons e ruins. Algumas fazem isso para proteger você. Quando tive a ideia de ir atrás do submarino, não foi diferente. Mas segui em frente. Transformar sonhos em projetos é um jeito de trazer a ideia para o plano do concreto e seguir em frente – mesmo na hora do desânimo. Essa busca me tomou quatro anos de planejamento e dois anos de saídas ao mar.
Da pesquisa para a exploração, cerca de 35 pessoas trabalharam no projeto. A maioria de forma voluntária. Foram 18 expedições até encontrarmos o submarino, a 85 quilômetros da costa de Santa Catarina e a 135 metros de profundidade. Procurar um submarino num oceano é igual ou pior que buscar uma agulha num palheiro. Depois de todos esses anos, o sentimento ao ver o submarino em nosso sonar? É indescritível. Para dizer o mínimo, a sensação de vitória e missão cumprida que toma conta do grupo é eletrizante. E é um combustível poderoso para ir atrás de novos sonhos. 


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