Jovens índios com acesso à internet questionam ritos dolorosos
CARLOS MINUANO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO XINGU
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO XINGU
A maioria dos índios adolescentes esperneia e chora. Serão tatuados à força no rosto com espinhos. Os jovens ikpengs do Xingu, que conhecem a cidade e gostam do Facebook, sabem que há lugares em que isso não existe.
'O fim desses rituais seria uma perda enorme', diz antropóloga
Meninos indígenas são mais questionadores que as meninas
Não há, claro, anestesia. Tudo acontece a seco. Trata-se de apenas um dos rituais dolorosos de iniciação na vida adulta que os jovens índios agora questionam.
Também no Xingu, há meninas que ficam mais de um ano reclusas ao menstruar pela primeira vez. Um pouco mais longe, no Amazonas, meninos enfiam a mão em luvas repletas de formigas venenosas.
Mutuá, 13, é um dos que passaram pela tatuagem e reclamam. "Judiaram de mim, e eu era pesado para que me segurassem" --no caso dos ikpengs, em geral os índios são surpreendidos quando ainda estão dormindo.
O ritual continua acontecendo, queiram os jovens ou não. "Na minha vez eu também não queria, mas quando te pegam não tem como fugir", admite uma das lideranças da tribo, Kumaré Ikpeng.
No Xingu, onde Kumaré vive, o mundo não indígena, porém, está cada vez mais presente --e o impacto é mais forte entre os adolescentes.
Índio acessa a internet |
Por todo lado, por exemplo, há laptops e celulares. "Além disso, os homens têm muito contato com o mundo, viajam, estudam, muitos trabalham para a Funai", diz Sofia Madeira, antropóloga e doutoranda pela Unifesp.
"Alguns meninos não entendem a razão dos rituais, alguns se negam. Falam 'ah, na cidade não faz isso, né?'. O jovem vê o mundo na internet e o sonho dele se transforma, ele quer carro, Twitter, namorar uma branca."
Para Madeira e para Sofia Mendonça, médica-antropóloga do projeto Xingu (Unifesp), o fenômeno preocupa, porém. "O fascínio pelo modo de vida que esses adolescentes encontram na cidade ao saírem para estudar é uma ameaça", diz Mendonça.
"Diferentemente dos mais velhos, estão em um momento de construção da personalidade, vulneráveis." Isso reforça a importância do rito de passagem, argumenta.
"Ele protege o jovem, auxilia nessa mudança de papel social. Nós, não indígenas, perdemos a noção da importância dos rituais de passagem, por isso tantos adultos seguem na adolescência."
fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folhateen/912567-jovens-indios-com-acesso-a-internet-questionam-ritos-dolorosos.shtml
ESG
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