Campanha de estímulo à travessia segura na faixa, idealizada pela AMC, ainda é promessa, não saiu do papel
Na semana em que o anúncio da ausência de passarelas no novo Centro de Eventos do Ceará ganhou destaque e causou polêmica, o Diário do Nordeste flagrou vários outros pontos, na cidade, onde é possível perceber a dificuldade de mobilidade e alta vulnerabilidade dos pedestres. Dados atualizados do Instituto Doutor José Frota (IJF) contabilizam uma trágica estatística da violência no trânsito: 798 atropelamentos graves só nos quatro primeiros meses deste ano; seis vítimas registradas a cada novo dia.
Este quantitativo já supera o do primeiro semestre do ano passado, em que foram listados, segundo a Autarquia Municipal de Trânsito (AMC), 761 vítimas feridas em Fortaleza e 80 mortes.
Para agravar mais o cenário, uma campanha de travessia segura nas faixas - idealizada pela autarquia e prometida para ser realizada desde o ano passado - ainda é uma promessa, não saiu do papel e está sem previsão certa de início. A aparente ineficiência das ações do poder público juntamente com a ausência de educação pode resultar em mais mortes. Mas como enfrentar os obstáculos e perigos da Capital?
A dona de casa Suely Carvalho, 26, tenta achar estratégias para conseguir atravessar o agitado cruzamento das vias Paroaras com Juscelino Kubitschek, no bairro do Passaré. Nas quatro vias, não há sequer faixas nem sinal com tempo para pedestre e, quando um semáforo fecha para quem segue direto, o outro abre para quem deseja dobrar. Resumo: não há um minuto de carros parados. O risco é alto.
Assim, Suely de Carvalho, na companhia de sua filha cadeirante, tem que correr, arriscar-se. "A gente até tenta sinalizar com a mão, pedir passagem, mas ninguém dá trégua. Só faltam jogar o carro por cima", desabafa.
Rotina
No cruzamento da Avenida Raul Barbosa com Murilo Borges, na Aerolândia, a rotina é de pavor. Apesar da presença de alguns agentes da AMC no turno da manhã, a via, com grande fluxo, não deixa margem para quem anda a pé. É possível flagrar veículos dobrando para todos os oito sentidos, não há priorização do pedestre, muito menos tolerância com os transeuntes.
Resultado disso são os riscos e temores de quem diariamente tem que arriscar a vida entre um carro, na desvantajosa briga entre homens e máquinas potentes. Indo deixar o neto de apenas dois anos e o filho de sete na escola, a vendedora Ana Paula Sousa, 38, já esteve na iminência de ser atropelada várias vezes.
"Foi Deus que me protegeu, só pode ser. Eu tenho muito medo de passar aqui. Mas tenho que enfrentar essa loucura todo santo dia. Não posso ficar ilhada por conta da falta de educação dos outros", reclama Ana Paula.
Crescente
Para o atual diretor executivo do IJF, Casimiro Dutra, profissional que convive diariamente com as vítimas de atropelamento, a problemática tem crescido nos últimos anos e há, segundo ele, uma perspectiva de piora, caso não haja medidas sérias, campanhas massivas de educação no trânsito e travessia segura como as que estão ocorrendo hoje, por exemplo, em São Paulo, capital.
"Temos um problema sério de falta de educação para o trânsito. As relações de poder são gritantes, pois, quanto mais possante é o meu veículo, mais ele ameaça o mais frágil. Há um verdadeiro processo de desumanização que só vai piorar", afirma Dutra.
Prova da brutalidade é a quantidade de pessoas com politraumatismo e traumatismo craniano que lotam os corredores do "Frotão". Entre os que mais falecem, estão as crianças e os idosos; os jovens ficam, no entanto, com sequelas mais graves.
Para o atual presidente da AMC, Fernando Bezerra, o quadro é grave, exige pulso firme. Mas, uma campanha de uso da faixa de pedestre está prometida para começar ainda neste semestre. "A campanha só não saiu ainda, pois estamos esperando que a gestão termine a colocação de asfalto em todas as vias que estão em obra para que possamos pintar novas faixas e começar as abordagens", afirma.
Segundo Fernando Bezerra, a AMC tem agido em vários sinais ditos críticos pela população e, apesar da desativação provisória da Escolinha de Trânsito da AMC, ações educativas estão sendo feitas diariamente nos colégios de Fortaleza. Há previsão, no entanto, de retomada das atividades da escola em 90 dias.
"Nem todo canto tem faixa de pedestre. O motorista tem, hoje, que ter atenção redobrada. Mas temos, sim, bons exemplos de respeito à faixa. Na Avenida Beira-Mar, por exemplo, as pessoas param. Isso é muito bom", diz.
Entre as dicas para uma boa travessia, segundo a AMC, estão: atravesse pela faixa e, na ausência dela, ande em linha reta; nunca atravesse pela frente ou pela traseira de um ônibus, pois poderá passar despercebido pelo condutor de um outro veículo; nunca passe driblando os carros em movimento; olhe para os dois lados antes de atravessar, mesmo se a rua for de mão única; quando atravessar, escolha um lugar onde tenha boa visão dos veículos e possa ser visto facilmente; respeite a vez do motorista e nunca tente atravessar com o sinal aberto.
Acidentes
798 atropelamentos graves foram registrados somente nos quatro primeiros meses deste ano, de acordo com dados do Instituto Doutor José Frota (IJF)
IVNA GIRÃOREPÓRTER
Na semana em que o anúncio da ausência de passarelas no novo Centro de Eventos do Ceará ganhou destaque e causou polêmica, o Diário do Nordeste flagrou vários outros pontos, na cidade, onde é possível perceber a dificuldade de mobilidade e alta vulnerabilidade dos pedestres. Dados atualizados do Instituto Doutor José Frota (IJF) contabilizam uma trágica estatística da violência no trânsito: 798 atropelamentos graves só nos quatro primeiros meses deste ano; seis vítimas registradas a cada novo dia.
Este quantitativo já supera o do primeiro semestre do ano passado, em que foram listados, segundo a Autarquia Municipal de Trânsito (AMC), 761 vítimas feridas em Fortaleza e 80 mortes.
Para agravar mais o cenário, uma campanha de travessia segura nas faixas - idealizada pela autarquia e prometida para ser realizada desde o ano passado - ainda é uma promessa, não saiu do papel e está sem previsão certa de início. A aparente ineficiência das ações do poder público juntamente com a ausência de educação pode resultar em mais mortes. Mas como enfrentar os obstáculos e perigos da Capital?
A dona de casa Suely Carvalho, 26, tenta achar estratégias para conseguir atravessar o agitado cruzamento das vias Paroaras com Juscelino Kubitschek, no bairro do Passaré. Nas quatro vias, não há sequer faixas nem sinal com tempo para pedestre e, quando um semáforo fecha para quem segue direto, o outro abre para quem deseja dobrar. Resumo: não há um minuto de carros parados. O risco é alto.
Assim, Suely de Carvalho, na companhia de sua filha cadeirante, tem que correr, arriscar-se. "A gente até tenta sinalizar com a mão, pedir passagem, mas ninguém dá trégua. Só faltam jogar o carro por cima", desabafa.
Rotina
No cruzamento da Avenida Raul Barbosa com Murilo Borges, na Aerolândia, a rotina é de pavor. Apesar da presença de alguns agentes da AMC no turno da manhã, a via, com grande fluxo, não deixa margem para quem anda a pé. É possível flagrar veículos dobrando para todos os oito sentidos, não há priorização do pedestre, muito menos tolerância com os transeuntes.
Resultado disso são os riscos e temores de quem diariamente tem que arriscar a vida entre um carro, na desvantajosa briga entre homens e máquinas potentes. Indo deixar o neto de apenas dois anos e o filho de sete na escola, a vendedora Ana Paula Sousa, 38, já esteve na iminência de ser atropelada várias vezes.
"Foi Deus que me protegeu, só pode ser. Eu tenho muito medo de passar aqui. Mas tenho que enfrentar essa loucura todo santo dia. Não posso ficar ilhada por conta da falta de educação dos outros", reclama Ana Paula.
Crescente
Para o atual diretor executivo do IJF, Casimiro Dutra, profissional que convive diariamente com as vítimas de atropelamento, a problemática tem crescido nos últimos anos e há, segundo ele, uma perspectiva de piora, caso não haja medidas sérias, campanhas massivas de educação no trânsito e travessia segura como as que estão ocorrendo hoje, por exemplo, em São Paulo, capital.
"Temos um problema sério de falta de educação para o trânsito. As relações de poder são gritantes, pois, quanto mais possante é o meu veículo, mais ele ameaça o mais frágil. Há um verdadeiro processo de desumanização que só vai piorar", afirma Dutra.
Prova da brutalidade é a quantidade de pessoas com politraumatismo e traumatismo craniano que lotam os corredores do "Frotão". Entre os que mais falecem, estão as crianças e os idosos; os jovens ficam, no entanto, com sequelas mais graves.
Para o atual presidente da AMC, Fernando Bezerra, o quadro é grave, exige pulso firme. Mas, uma campanha de uso da faixa de pedestre está prometida para começar ainda neste semestre. "A campanha só não saiu ainda, pois estamos esperando que a gestão termine a colocação de asfalto em todas as vias que estão em obra para que possamos pintar novas faixas e começar as abordagens", afirma.
Segundo Fernando Bezerra, a AMC tem agido em vários sinais ditos críticos pela população e, apesar da desativação provisória da Escolinha de Trânsito da AMC, ações educativas estão sendo feitas diariamente nos colégios de Fortaleza. Há previsão, no entanto, de retomada das atividades da escola em 90 dias.
"Nem todo canto tem faixa de pedestre. O motorista tem, hoje, que ter atenção redobrada. Mas temos, sim, bons exemplos de respeito à faixa. Na Avenida Beira-Mar, por exemplo, as pessoas param. Isso é muito bom", diz.
Entre as dicas para uma boa travessia, segundo a AMC, estão: atravesse pela faixa e, na ausência dela, ande em linha reta; nunca atravesse pela frente ou pela traseira de um ônibus, pois poderá passar despercebido pelo condutor de um outro veículo; nunca passe driblando os carros em movimento; olhe para os dois lados antes de atravessar, mesmo se a rua for de mão única; quando atravessar, escolha um lugar onde tenha boa visão dos veículos e possa ser visto facilmente; respeite a vez do motorista e nunca tente atravessar com o sinal aberto.
Acidentes
798 atropelamentos graves foram registrados somente nos quatro primeiros meses deste ano, de acordo com dados do Instituto Doutor José Frota (IJF)
IVNA GIRÃOREPÓRTER
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